Mais idosos e diminuição de trabalhadores na ativa em 2050 trazem reflexos ao setor produtivo
Rafael Vigna
O ano de 2013 inicia uma curva decrescente que deve culminar na inversão da proporção de pessoas economicamente ativas no Rio Grande do Sul. Isso porque um estudo elaborado recentemente pela FEE indica que, em 2015, pela primeira vez, a proporção de gaúchos em idade potencial para trabalhar será menor do que o ano anterior. Além disso, o Estado já apresenta o menor crescimento do contingente na última década, com índice de 5% – enquanto a média nacional ultrapassa os 12%.
O fator é justificado pelo panorama de crescimento populacional em curto prazo, até 2025, quando o número de habitantes chegará a 11,07 milhões. Entretanto, de acordo com o levantamento, em 2050 haverá uma redução para 9,7 milhões, ou 984.059 habitantes a menos na comparação com 2010. A análise ainda demonstra que os jovens (até 14 anos), atualmente 2,23 milhões, cairão 1,9 milhão em 2025 e 1,25 milhão em 2050.
Já os idosos (com 65 anos ou mais), terão progressão acentuada pulando de 1,63 milhão para 2,24 milhões em 2050. Quanto aos potencialmente ativos (de 15 a 64 anos), o número, que em 2010 era de 7,47 milhões, cairá para 6,2 milhões no mesmo período. Por isso, a população gaúcha em 2050 deve ser composta em 63,9% por pessoas entre 15 e 64 anos; 23,1% de idosos e 12,9% de jovens.
Para o autor do estudo, o economista e estatístico Pedro Zuanazzi, entre os setores que constituem a formação do PIB (indústria, serviços e agricultura) os impactos reais ainda permanecem indefinidos e em um contexto de difícil avaliação. “Talvez a automação complemente uma parcela das perdas na indústria, mas nas demais áreas não há como prever”, afirma ao ressaltar que as possibilidades não devem ser tratadas de forma alarmante.
“Se há uma empresa de turismo especializada em terceira idade, pode ter mais lucro. Negócios voltados a crianças devem diminuir. Entretanto, uma questão importante são os planejamentos de longo prazo. Um banco que pretende ampliar a carteira de clientes até 2025 terá de rever os dados para não correr o risco de traçar uma meta que supera a nova realidade populacional”, exemplifica.
O cenário também mereceu atenção especial da Fiergs. O desafio, na avaliação do coordenador da Unidade de Estudos Econômicos da entidade, André Nunes de Nunes, é encontrar uma maneira de aumentar os índices de produtividade com a mesma quantidade de trabalhadores. Este é justamente um dos aspectos destacados pelo professor-adjunto do Programa de Pós-Graduação em Economia da Pucrs Paulo Jacinto, em outro estudo a respeito do tema. Isso porque, segundo ele, a atual faixa de idosos pertence a uma geração que participava menos ativamente do mercado formal.
Na opinião do economista, a nova força de trabalho possui mais qualificação, capital humano e, por consequência, tem maior potencial produtivo. “A tendência é de que essas pessoas fiquem por mais tempo no mercado, até porque existe uma associação entre escolaridade e saúde que é positiva e permite esperar que boa parte chegue aos seus 60 anos em melhores condições de saúde”, considera.
Por outro lado, a má notícia é que com mais idosos, o Estado tem uma demanda ampliada por recursos públicos, especialmente na área da saúde, o que reduziria a capacidade de poupança com destinação de verbas aos indivíduos e menos aos investimentos. Em primeira análise, a situação também chama a atenção para a necessidade de alterações no regime previdenciário, que fechou o ano passado com um rombo superior a R$ 35 bilhões. De acordo com Jacinto, o impasse só pode ser resolvido por meio de alterações no tempo e na idade de contribuição.
Mesmo assim, ele reconhece o problema político para abordar o assunto e relembra o caso de Nicolas Sarkozy, cuja tentativa de atacar o problema na França resultou em derrota nas urnas nas eleições presidenciais de maio do ano passado. “Caminhamos a passos largos para que tenhamos uma situação semelhante a de alguns países da Europa, em que a média de aposentados chega a dois para apenas um trabalhador na ativa. É preciso pensar em ações imediatas”, resume.
O envelhecimento da população mundial já é apontado como uma das características do século XXI. As taxas de fertilidade despencam em todas as regiões, aliadas ao aumento da expectativa de vida. Na América Latina e no Caribe (ALC), a queda da fertilidade supera a de mortalidade, o que reduz os índices de dependência demográfica nos anos seguintes.
Por isso, o que há alguns anos parecia impensável começa a tomar forma como uma das resoluções possíveis para o problema do envelhecimento da população. Na avaliação de especialistas, os incentivos à natalidade não estão descartados e podem ganhar espaço na pauta de discussões a partir dos próximos meses.
Com média de fecundidade inferior a dois filhos por casal, o Rio Grande do Sul já se aproxima do índice que levou a Rússia a instituir um programa de incentivos financeiros aos casais com mais de um filho. Na Suécia e no Canadá, as licenças maternidades de um ano e paternidade de alguns meses também buscam colaborar com a reposição da população.
Na opinião do professor-adjunto do Programa de Pós-Graduação em Economia da Pucrs Paulo Jacinto, o Brasil começou, de maneira tímida, a adotar a mesma linha de ação. A ampliação do tempo de licença maternidade para seis meses é um dos exemplos. Por outro lado, ele chama a atenção para a necessidade de melhorias estruturais antes de pensar em incentivos mais efetivos.
“Não sei se é o momento, pois isso é uma questão mais cultural e, ao avaliar o custo de manutenção e a necessidade de pessoas mais escolarizadas, percebemos que é necessário pensar na qualidade. Não estamos preparados para isso. Basta ver as condições de nossas escolas públicas e a saúde. O mais imediato é a reforma da previdência”, defende.
Conforme explica Jacinto, segundo a teoria econômica da fertilidade, os filhos representam um novo bem de capital, porém com serviços diferenciados. Por isso, a tendência é de famílias menores, pois o bem possui um custo de manutenção elevado e as pessoas acabam optando por investir na alta qualidade, o que aumenta ainda mais os gastos com colégios particulares, intercâmbios no exterior, atividades complementares, esportes e cultura, entre outros aspectos da formação. “Tudo isso gera o conflito de que o valor investido, no caso disponível para isso, quando dividido entre dois bens, reduzirá, e muito, a qualidade do primeiro”, exemplifica.
Já o economista e estatístico da FEE Pedro Zuanazzi, lembra que qualquer tipo de alteração de curso levará no mínimo 15 anos para surtir algum efeito, pois este é o tempo considerado para o indivíduo ingressar no mercado de trabalho. Segundo ele, a flexibilização da imigração também constitui uma tendência de curto prazo para atacar o problema de maneira imediata.
Fonte: Jornal do Comércio (RS)