GENEBRA – A cada três minutos, um estrangeiro é expulso da Europa por não ter visto de residência. Dados oficiais coletados por governos europeus indicam que quase 80 mil pessoas foram obrigadas a deixar o continente apenas nos seis primeiros meses do ano, além de outros 165 mil em 2012.
Os números foram apresentados pela Frontex, a agência de fronteiras da Europa que, nos últimos anos, vem ganhando recursos extras para proteger as entradas do continente diante do fluxo de imigrantes. Em 2012, um total de 268 mil estrangeiros que viviam nos países europeus receberam notificações da Justiça de que seriam expulsos por não terem vistos de residência.
Os dados do verdadeiro “muro europeu” foram divulgados às vésperas de uma reunião de chanceleres da Europa para debater, hoje em Bruxelas, políticas para conter o fluxo migratório. O volume de “retornos efetivos” de estrangeiros está relacionado diretamente com a decisão de diversos governos de adotar políticas mais restritivas em termos de imigração. Grã-Bretanha, França, Itália, Suíça e diversos outros governos estabeleceram, nos últimos anos, mecanismos de maior controle contra a permanência de estrangeiros sem vistos.
Nas últimas semanas, um caso marcou a Europa. Uma garota estrangeira que frequentava a escola na França foi abordada pela polícia durante uma viagem de sua classe, obrigada a descer do ônibus escolar e deportada para Kosovo, junto com sua família.
Em 2013, o maior número de expulsões foi de albaneses. Foram quase 8,3 mil apenas nos seis primeiros meses do ano, além de mais de 15 mil em 2012. Os paquistaneses vêm na segunda posição, seguidos por imigrantes do Marrocos. Os dados revelam que mais de 700 pessoas são notificadas de que serão expulsas a cada dia no continente.
Uma das grandes novidades de 2012 é o número de sírios tentando entrar irregularmente na Europa, fugindo da guerra civil. Os brasileiros também continuam sendo barrados nos diferentes aeroportos da Europa. Ainda assim, os números são bem inferiores aos que eram registrados há cinco anos. Segundo os novos dados, 1,3 mil brasileiros foram impedidos de entrar na Europa entre janeiro e julho deste ano. Em 2012, o número total chegou a 3 mil.
Nesta semana, em conversa com jornalistas, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, admitiu que a questão da imigração é “um dos maiores desafios” da Europa no momento. “Todos os países precisam sentar à mesa para encontrar uma solução”, disse.
Sociólogos, como o suíço Jean Ziegler, apontam que a alta no número de deportações é resultado, acima de tudo, do fato de que partidos com plataformas xenófobas ganharam força em diversos governos, empurrando até mesmo grupos de centro-esquerda a ter de dar uma resposta no campo da imigração para não perder votos.
Nesta semana, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, adotou uma linha ainda mais dura, rejeitando não apenas imigrantes de fora da Europa, mas também indicando que vai resistir à livre circulação de trabalhadores dos países do bloco, um dos pilares da UE. Ele defendeu que a Grã-Bretanha recuse trabalhadores do Leste Europeu.
Já a chanceler italiana, Emma Bonino, enviou uma carta à chefe da diplomacia da Europa, Catherine Ashton, sugerindo que a imigração seja tratada dentro do dossiê de Defesa e Segurança e pediu que o fluxo passe a ser alvo de operações militares.
Fonte: SOMA