A autoimagem, forma como o indivíduo se vê, é o fator mais importante a ser analisado pelo cirurgião plástico quando procurado pelo paciente, por uma desconformidade com sua aparência. A compreensão pelo médico dessa visão que o paciente tem de si é que definirá se o resultado da cirurgia será exitoso ou frustrante para ambos. De nada adiantam grandes recursos técnicos executados pelo cirurgião com excelência se não ficar claro o que o paciente espera do resultado e se a sua expectativa será possível de ser atingida pela cirurgia proposta.
Isso é totalmente individual e único. Por essa razão, a maioria das frustrações com cirurgias plásticas estéticas não se dá por problema técnico ou mau resultado evidente do procedimento, mas sim por este não corresponder positivamente à forma com que o paciente o enxerga e como ele se sente com sua nova aparência. Em contrapartida, resultados até mais limitados em termos de “ganho estético”, na visão do cirurgião ou de amigos e familiares, podem tornar um paciente extremamente realizado, pois, a partir de então, sua imagem no espelho se assemelhará a sua visão do que é belo e harmônico para ele e que, afinal, é o que realmente importa.
A partir dessa premissa, pode-se compreender o quão fundamental é a avaliação do paciente de forma abrangente e individual pelo cirurgião para bem planejar uma cirurgia estética. Uma distorção que ocorre com frequência é que muitos indivíduos, infelizmente, são avaliados superficialmente, valorizando-se mais o “procedimento milagroso”, que deveria ser considerado nada mais do que um recurso médico para auxiliar na busca do tão almejado bem-estar do que o próprio ser humano que o procura.
É evidente que todo nós, seres de natureza social, temos necessidade e, por essa razão, buscamos nos adaptar e sermos bem aceitos entre nossos semelhantes. Portanto, a opinião das pessoas que nos cercam e com as quais interagimos social e afetivamente, inclusive sobre nosso aspecto físico, é também importante. O problema é se a motivação que levou o paciente a mudar a sua aparência foi preponderantemente por influência de outrem ou quando a sua autoimagem está muito distante daquela refletida no espelho.
Igualmente quando conflitos de origem psicológica estão deslocados para o corpo, isto é, o indivíduo atribui a um problema estético que só ele “enxerga” uma frustração ou qualquer outro sentimento de menos valia, a cirurgia nunca será a solução, posto que a causa é outra e o tratamento mais indicado é de ordem psiquiátrica. De situações assim, desapercebidas pelo cirurgião, resultam pacientes operados em demasia, cada vez menos satisfeitos e mais confusos com sua verdadeira identidade.
Por fim, cabe ao cirurgião plástico que busca realmente ajudar ao seu paciente, dentro das suas limitações técnicas e humanas, procurar com que ele, ao ver a sua imagem refletida, enxergue a sim mesmo e sinta-se feliz com o que vê.
Dr. Pedro Alexandre
Cirurgião Plástico