Dias de temperaturas baixas são responsáveis por aumento da demanda
Rodrigo Borba
Nos dias de frio intenso – nesta quinta-feira, a mínima foi de 0,3 grau na Capital –, as 616 vagas em abrigos e albergues de Porto Alegre têm lotação máxima. O número é ampliado em uma centena nesta época do ano, e, ainda assim, é insuficiente. De acordo com o último censo realizado pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), no ano passado, a população de moradores de rua na Capital somava 1.347 pessoas. Ao todo, são três abrigos 24 horas, um para famílias e outro para mulheres com filhos. Também existem três albergues para pernoite, das 18h às 7h.
Jonatas de Freitas Silva, enfermeiro de alta complexidade da Fasc, ressalta que no albergue municipal, localizado na rua Comendador Azevedo, no bairro Floresta, existem 150 vagas, mas a orientação é para não deixar ninguém sem acolhida. Na segunda-feira, por exemplo, o local recebeu 167 pessoas. Nas outras instituições, porém, a limitação de espaço físico impede a adoção da medida.
Silva revela que as equipes da Fasc enfrentam resistência para convencer os moradores de rua a aceitarem o deslocamento até as instituições. Dos 38 abordados na segunda-feira, por exemplo, apenas quatro aceitaram a ajuda. Os outros receberam cobertores. “Em função das regras, as pessoas não podem usar álcool ou drogas. É a maior dificuldade”, comenta.
Isabel Cristina Mello Bittencourt, de 58 anos, mora na rua há dez e não costuma ir para abrigos, mas por outro motivo: tem três cachorros. Tufão, Maxwell e Isabel Cristina vivem com ela embaixo do viaduto Tiradentes, na avenida Protásio Alves. “A janta deles era muito gostosa, mas não gostava de dormir nas camas, preferia ficar no chão”, lembra. Também salienta o fato de os conflitos com frequentadores alcoolizados ou drogados serem frequentes.
Celso Luiz Gama, de 50 anos, “divide” o viaduto com Isabel Cristina e também não faz questão de deixar o local. “Não vou (para um abrigo) porque tem que sair cedo. Às 5h, já estamos sendo acordados para ir para a rua, com chuva ou sol”, critica. Sobre como enfrentam as baixas temperaturas, Gama, que perdeu a perna esquerda há oito anos, em um atropelamento, responde com bom humor: “Não viramos picolé ainda não sei como”.
O casal de amigos sobrevive graças a doações. Fora o frio, outro problema tira o sono dos dois. “Não conseguimos dormir direito. Sempre tem um drogado para tentar levar as coisas que ganhamos”, conta Gama. O sonho de ambos, como não poderia deixar de ser, é o de ter um cantinho para morar e viver com mais dignidade. “Na Copa não vai poder ter ninguém na rua. Até lá, pode ser que Deus olhe para nós e brilhe uma estrela”, projeta Isabel Cristina, repleta de esperança.
A equipe técnica do albergue municipal executa o serviço de abordagem social em regime de plantão noturno, deslocando-se até os locais onde se encontram os usuários em potencial. O serviço ocorre todas as noites, e é acionado pela comunidade, entre 19h e 7h, pelo telefone (51) 3346.3238. Já as abordagens diurnas são feitas sistematicamente. O telefone para contato nesse período é o (51) 3289.4994.
Fonte: Jornal do Comércio (RS)