Foi muito impactante a decisão da atriz Angelina Jolie, um ícone da beleza feminina contemporânea, de submeter-se a uma mastectomia bilateral profilática, que consiste na retirada cirúrgica de ambas as mamas, poupando-se, praticamente, apenas a pele, as aréolas e os mamilos. A cirurgia foi profilática (preventiva e não terapêutica) porque a ilustre paciente não apresentava nenhuma doença nas mamas, mas realizou um exame que analisa a tendência genética de desenvolvê-lo, revelando uma porcentagem alta , de 87% no seu caso. Suas mamas foram posteriormente reconstruídas numa outra cirurgia (plástica reconstrutiva com próteses de silicone).
O impacto da notícia entre as mulheres pareceu resultar do grande simbolismo que as mamas têm na imagem feminina, fortemente associada à maternidade e à sexualidade. Mas o que parece realmente ter causado “frisson” foi a decisão de Angelina e de seus médicos de optarem por um procedimento cirúrgico que é sempre mutilante e traumático, como a mastectomia, apenas para a prevenção do câncer. Mesmo que a reconstrução das mamas seja plenamente exitosa, fato perfeitamente possível com as técnicas atuais, todo esse processo não é desprovido de riscos e de complicações.
O que parece ter pesado muito na decisão da atriz foi ela ter vivenciado o sofrimento e a morte precoce de sua mãe, justamente por essa doença que, infelizmente, ainda assusta bastante as pacientes por ser realmente grave e, em alguns casos, incurável. Ela alegou que pensou nos seus filhos e que gostaria de ter uma vida longa ao lado deles, coisa que sua mãe não pode desfrutar plenamente com os seus.
Na Medicina não existem dogmas definitivos e nem regras sem exceção. Por isso, cada caso e cada paciente devem ser avaliados individualmente, em todo o seu contexto, antes que se emitam quaisquer opiniões e, especialmente, julgamentos, como reza o bom senso. Consequentemente, não podemos afirmar que Mrs. Jolie agiu errado, deixando de optar por métodos diagnósticos tão efetivos que hoje dispomos e nem que todos os casos semelhantes devam ser conduzidos, necessariamente, da mesma forma.
Não se pode negar, entretanto, que foi um ato de coragem e de determinação admiráveis dessa “ bela “ que preferiu não enfrentar a ” fera”, mas cortar a própria carne em nome do amor.
Dr. Pedro Alexandre
Cirurgião Plástico