Softwares com foco em gestão ganham também a atenção dos pequenos empresários
Adriana Lampert
Escala de funcionários, horários de pico, definição de vitrines, ociosidade de equipe e demais estratégias de marketing e administrativas são processos que envolvem a rotina de uma loja e precisam estar afinados. Para garantir uma melhor gestão, os empresários do varejo têm aderido a uma série de softwares disponíveis no mercado da Tecnologia da Informação (TI). Entre as ferramentas mais recentes, uma delas oferece a possibilidade de medir a eficiência do negócio através de um comparativo entre o fluxo de pessoas e o número de comercializações efetivadas no estabelecimento. Com uma análise especializada dos dados apurados pelo sistema, é possível definir métricas de crescimento e ações estratégicas, permitindo melhor administração das lojas e do planejamento operacional.
Para inserir o indicador em uma empresa, é preciso investimento inicial a partir de R$ 7 mil, seguido por uma taxa de manutenção de R$ 300,00 por mês. Quem oferece o serviço garante: “Vale cada centavo”, diz a diretora-geral da Virtual Gate, Heloísa Cranchi. “Faturamento alto nem sempre é indicador de eficiência. Uma loja pode registrar fluxo de três mil clientes e vender apenas para R$ 1 mil, enquanto em outra, onde somente duas mil pessoas entraram no estabelecimento, venderá na mesma proporção.
“Quem aproveitou melhor a oportunidade de comercialização?”, provoca. “Fazer uma fotografia dos negócios para comparar o número de clientes e a taxa de conversão em vendas é uma forma eficaz de potencializar ganhos.”
Funcionou com a Reebok, afirma Heloísa. Ela conta que a loja de artigos esportivos implementou o sistema de medição em unidades com fluxo baixo de consumidores e em outras em que o desempenho ficava aquém do esperado. “Agora, a marca está expandindo o processo para todos os pontos.” Após a constatação da necessidade de mudar, e com a implementação de nova estratégia de marketing, ampliação e treinamento da equipe, o faturamento da empresa inflou em 20%. Especializada em gestão de fluxo, a Virtual Gate está no mercado há dez anos, ajudando grandes varejistas (como as redes Pernambucanas e C&A) e marcas internacionais (como Adidas, Nike e Lacoste) a entender o que acontece nos estabelecimentos, para elevar o desempenho. “Ao utilizar um indicador que extrapola as informações internas, fica mais fácil perceber o que não está funcionando”, explica Heloísa, reforçando que outras formas de buscar a taxa de conversão, como catracas ou a contagem de atendimentos feita pelos rodízios entre os vendedores, estão ultrapassadas.
Mas não é o tamanho da empresa, e, sim, o perfil da gestão, que tem levado varejistas a aderirem à TI para melhorar processos. A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas no Estado (FCDL-RS), estimula seus associados a criarem lojas virtuais, “para ficarem aptos a lidar com a concorrência via web”, diz o presidente da entidade, Vitor Augusto Koch. “Nestas lojas-modelo, apresentamos ao empresário as diversas tecnologias de medição de visitas, em que é possível saber o sexo do consumidor, identificar o semblante da pessoa e até saber se o músculo da face está contraído ou descontraído. Com essas ferramentas, mensura-se o fluxo de pessoas, o giro de estoque, entre outros.” Já as medições de qualidade no atendimento estão inseridas no programa Qcomércio (para associados da FCDL-RS), que disponibiliza um software gerenciador de projetos, que vem com modelo de planejamento estratégico a ser adequado pelo empresário, de acordo com o padrão da loja.
O programa mede resultados de gestão e qualidade de atendimento, chegando a cobrar eletronicamente do funcionário que seja feito o pós-venda, por exemplo. Uma das grandes lutas da entidade é sensibilizar os microempresários para que adotem ferramentas de gestão, aponta o dirigente.
Empresário de TI e presidente do comitê do PGQP do Vale do Paranhama, Marcos Kaiser concorda que o planejamento preventivo para identificação de cenários de ameaça ou limitação interna é “fundamental”. No entanto, ele frisa que, além das tecnologias de gestão, também é indicado usar de metodologias simples como realizar pesquisa de opinião com os consumidores e de satisfação com os colaboradores.
O Sindicatos dos Lojistas de Porto Alegre (Sindilojas-POA) irá promover uma feira de tecnologia voltada para o varejo, buscando viabilizar aos comerciantes locais modernas ferramentas disponíveis nos mercados nacional e internacional, em julho deste ano. De acordo com o presidente da entidade, Ronaldo Sielichow, este é um tema de grande importância e não há como pensar no futuro do comércio sem uso da Tecnologia da Informação (TI). “Nos próximos meses, iremos à Nova Iorque para conhecer o que existe de melhor no controle eletrônico de estoque e de pessoas. São ferramentas que, além de ajudar na gestão, também contribuem para suprir problemas, como a escassez de mão de obra”, diz o dirigente, frisando que, entre as tendências do varejo nos próximos anos, está a extinção da função de caixa nos estabelecimentos. “As vendas em dinheiro correspondem a menos de 10% nas empresas. Em breve, as comercializações serão todas por cartão ou iPhones, e veremos os próprios atendentes ou gerentes, com auxílio de tecnologia, emitindo notas eletrônicas”, prevê Sielichow, citando processo já utilizado em solo norte-americano.
Outro ponto que é difícil de trabalhar em uma varejista é a gestão de estoque. “Antigamente, se fechava para balanço por dois dias. Hoje já existe leitor óptico, que faz o serviço de contagem passando pelas prateleiras.” Neste ritmo, surgem também etiquetas digitais, que irão finalizar de vez com situações de contradição, onde no produto tem um preço e, no caixa, outro. Também o sistema de controle de fluxo de pessoas irá ajudar lojistas a saberem quem é seu público-alvo: softwares que leem a idade do consumidor, o estilo de vestir, o sexo, entre outras características, irão automaticamente repassar informações para vitrines virtuais, que, por sua vez, irão compor itens de acordo com quem passa em frente ao estabelecimento. “O Sindilojas está se empenhando em encorajar os lojistas a modernizarem suas gestões – mesmo os pequenos – porque, ainda que haja necessidade de investimento (já nem tão caro assim), vale a pena, porque os resultados são reais”, observa Sielichow. A entidade quer disponibilizar no evento de julho – que se chamará Feira Brasileira do Varejo (Febravar) – linhas de financiamento que facilitem a aquisição de máquinas, equipamentos e softwares para os lojistas.
Fonte: Jornal do Comércio (RS)