Existe risco, doutor? Essa pergunta, certamente, está ecoando, neste momento, em muitos consultórios médicos espalhados pelo mundo enquanto percorremos essas linhas. Mas, afinal, existe risco numa cirurgia plástica? Eu costumo explicar da seguinte forma: as cirurgias plásticas, assim como qualquer procedimento cirúrgico, são em maior ou menor grau, um trauma ao organismo do paciente. As incisões (cortes), cauterizações, suturas (pontos), manipulação dos tecidos, enfim, todo esse conjunto de ações que denominamos trauma cirúrgico , provoca uma reação orgânica , resultando em dor, edema (inchaço), equimoses (manchas roxas),etc.
A intensidade dessa reação, bem como o tempo de recuperação, depende de vários fatores, mas principalmente do porte do procedimento, das condições de saúde do paciente, além, é claro, da técnica do cirurgião. As cirurgias plásticas, em especial as estéticas, comparadas a outras cirurgias (traumatológicas, urológicas, ginecológicas, neurocirúrgicas) são consideradas de baixo risco. Isto porque costumam ser feitas em pacientes saudáveis, por serem eletivas (podem ser programadas e o paciente preparado previamente, pois não há doença que torne a cirurgia inadiável). Além disso, nas cirurgias plásticas estéticas não há intervenção em órgãos vitais como pulmões, rins, coração. São procedimentos mais superficiais que abrangem estruturas como a pele, a gordura, os músculos e, mais raramente, os ossos. Outro fator relevante é que elas são cirurgias classificadas como limpas, significando que possuem um potencial de infecção muito próximo de zero. É indispensável que seja feita uma avaliação clínica detalhada, bem como exames pré-operatórios adequados e que o procedimento indicado esteja de acordo com a faixa etária e as particularidades de cada paciente.
Os recentes avanços na área da anestesia também nos dão hoje muita segurança no transoperatório dessas cirurgias. Tão importante como tudo o que foi mencionado, na prevenção de complicações e diminuição do risco em cirurgia plástica é que haja uma relação genuína de confiança e honestidade entre o médico e o paciente. O cirurgião deve evitar expor o paciente a procedimentos muito extensos e invasivos, na ânsia por melhor resultado estético. Respeitar as limitações da técnica, as suas próprias e a capacidade orgânica do paciente são quesitos fundamentais de um cirurgião realmente criterioso e prudente. O paciente, por sua vez, jamais deve omitir do seu médico quaisquer informações sobre seu histórico de doenças, hábitos, uso de drogas ou medicações, devendo seguir à risca as orientações que lhe foram dadas. Observando todos esses detalhes é possível minimizar muito os riscos nas cirurgias plásticas, tanto de intercorrências graves como de complicações praticamente inócuas e não causadoras de sequelas. Há, obviamente, fatores imponderáveis, inerentes aos organismos vivos e também à falibilidade do ser humano que não são totalmente previsíveis nem controláveis.
Baseado na minha experiência como especialista em cirurgia plástica, me permito afirmar que ela se constitui em um instrumento maravilhoso da ciência médica que costuma trazer muita realização profissional ao cirurgião e alegria aos pacientes. O esforço conjunto de todas as partes envolvidas realmente vale a pena e evita muitas frustrações. Acredito que todo ato ou decisão a ser tomada em nossas vidas, especialmente quando envolve nossa saúde, devem ser pautados no bom senso, numa orientação técnica, ética e científica rigorosa e numa relação risco x benefício sensata. Intervir ou permitir atuar na obra sagrada do Criador pode parecer heresia, mas não podemos esquecer de que Ele próprio nos dotou do livre arbítrio.
Dr. Pedro Alexandre
Cirurgião Plástico