Mensagens de apoio, repúdio, alegria, ódio, esperança, incentivo, devaneios e conspirações. Valores, sentenças e interpretações dos fatos jorram aos milhões nasredes sociais desde o início dos protestos em 11 capitais brasileiras na segunda-feira, recontando detalhes de um fato histórico.
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Embora ainda faltem respostas para tudo o que está acontecendo, o mosaico de postagens mostrou a cara heterogênea e divergente das manifestações, que passaram a reunir anarquistas, punks, extremistas de esquerda, universitários, classe média e até mesmo indivíduos de perfil mais conservador, cada qual com os seus ideais.
Um levantamento da empresa Tribatics mostrou uma detalhada apuração sobre as publicações no Twitter relacionadas às passeatas entre o início da tarde de segunda-feira e a manhã desta terça-feira. Foram mais de 604 mil tweets, disparados por 270 mil usuários.
As expressões mais utilizadas foram “Brasil”, “rua” e “a maior”. Isso sem contar as manifestações no Facebook e You Tube, que elevaram aos milhões as manifestações sobre os atos. As causas que motivaram as pessoas se multiplicaram. A tarifa de ônibus foi o gancho inicial, os gastos excessivos com a Copa foram um combustível extra, mas as redes sociais gritavam para denunciar corrupção, carências em saúde, educação e segurança e a manutenção do status quo.
A heterogeneidade dos ativistas, então, passou a produzir na internet uma miscelânea de urros e conflitos. Cada um reivindicando algo diferente do outro. E interpretando os fatos também de forma diversa. Nada mexeu mais com os ânimos da população do que a discussão sobre o pacifismo ou a violência das caminhadas. Muitos se diziam assustados com o que está ocorrendo, com a queima de lixeiras e ônibus, depredação de estabelecimentos e confrontos com a Polícia Militar. Argumentos sustentavam que a agressividade significava a perda da razão, a desconexão com as causas, a perda do apoio de segmentos sociais e, pior, a abertura de brecha para eventuais reações truculentas das autoridades. De outra parte, indignados combatiam essas opiniões, afirmavam que protesto sem prejuízo ao patrimônio não causa o mesmo impacto, não alcança as mesmas conquistas, não amedronta, de fato, os governantes. Com letras em caixa alta, berravam que violência de verdade é amargurar no banco de um hospital do SUS ou aturar mais uma obra superfaturada.
Os críticos dos ativistas violentos também passaram a apontar contradições. Provocavam ao dizer que eles estavam protestando contra o sistema, encapuzados, destruindo o que havia pela frente e, ao mesmo tempo, vestindo roupas de marcas multinacionais. Seriam grupelhos de rebeldes querendo apenas extravasar.
No turbilhão de opiniões, os mais desencantados defendiam a manutenção das marchas majoritariamente apartidárias, enquanto outros ressaltavam que, somente através da política tradicional e do sistema democrático, é possível mudar a cara do poder e transformar verdadeiramente o país em algo melhor.
A imprensa também esteve no cerne das manifestações. Duramente criticada por alguns, acusada de atuar alinhada ao sistema econômico e promover discurso conservador, e elogiada por outros que citavam a sua participação decisiva na consolidação da democracia e a denúncia de incontáveis desmandos da classe política e empresarial.
A vivacidade foi tamanha que não faltaram as teorias conspiratórias. Proliferaram denúncias apontando interesses dos Estados Unidos para desestabilizar o Brasil. Revoltados, indivíduos acusavam o coletivo Anonymous de ter origem estrangeira. E chamavam de golpe à democracia brasileira a petição on line do grupo Avaaz — de atuação internacional —, que pretende reunir 5 milhões de assinaturas digitais para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Não há consensos. Não há bandeiras únicas. Não há homogeneidade. Não há métodos padrões. Há, sim, uma multidão sedenta por falar. Todos querem mudar o Brasil. Algo em comum? O nível de insatisfação chegou ao limite.
FRASES NA REDE
“Simplesmente vergonha dessas pessoas que acham que a violência conquista alguma coisa”
“Vi idosos, vi crianças e também vi um monte de babacas quebrando tudo. Tenho certeza de que, para estes, daqui a pouco o pai tá indo buscar e ainda vai dar uma mesadinha para alegrar o filhote”
“Sou totalmente a favor dos protestos que estão ocorrendo pelo Brasil afora. Acho linda essa vontade de lutar por um país melhor”
“País de contradições: ao embalo de ‘Vem pra rua’, protestos por acesso ao transporte coletivo e a Fiat querendo vender carro”
“Está enganado quem pensa que baixar a tarifa do ônibus vai cessar os protestos. Motivo para outros é o que não falta”
“Estamos reféns de uma geração que não sabe nada sobre 64, que defende o fechamento do Congresso e o fim da representação. Um movimento patrocinado e organizado por americanos, deixando a democracia brasileira em xeque-mate”
“Um ônibus queimado é um bilhão de vezes menos violento do que uma obra superfaturada”
“Não pensei que fosse viver para ver isso. Está acontecendo! Acordei orgulhosa de ser gaúcha, de ser brasileira”
“O futebol já não esconde, o futebol já não entretém mais e a inteligência não está mais travestida e calada. Queremos como futuro a educação de qualidade, a saúde que alcança todos e um governo honesto e transparente”
“Partidos políticos, saiam das manifestações e abaixem suas bandeiras! Pois este protesto é feito pelo povo, e não por vocês”
“Há de lembrar às raposas velhas desta cidade: o protesto é contra o sistema, não contra partidos e/ou pessoas”
“Essa galera pedindo o impeachment da Dilma tá sequelada. O objetivo do protesto tem que ser falar de projetos e não de partidos políticos”
“Quem proibiu partidos políticos foi a ditadura militar, só lembrando”
Confira a cronologia dos confrontos:
PORTO ALEGRE
4 de outubro de 2012 | Tatu-bola
Contrários à privatização de locais públicos, cem pessoas cercaram o tatu-bola, mascote da Copa do Mundo, no Largo Glênio Peres. Alguns manifestantes invadiram o local onde estava o boneco inflável e houve confronto com policiais munidos de granadas e balas de borracha. Houve feridos e, por dano ao patrimônio público ou lesões corporais contra policiais, 15 pessoas foram presas.
27 de março de 2013 | Protestos contra o reajuste
Em março, houve protestos após reajuste na tarifa de ônibus na Capital (no dia 21). Na quarta-feira, 27, a prefeitura foi atacada com pedras, tintas e frutas. Houve pichação e quebra de vidraças. A polícia reagiu com bombas de efeito moral. Em abril, depois de novas pichações, BM e Guarda Municipal não agiram e foram contestados. Nos atos seguintes, não houve confrontos graves.
29 de maio | Acampamento contra o corte de árvores
Em uma ação planejada, cerca de 200 homens da Brigada Militar, do Batalhão de Operações Especiais (BOE) e do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) agiram na retirada dos manifestantes que acampavam ao lado da Câmara de Vereadores. Eles ficaram no local por mais de um mês, em protesto ao corte de árvores para a duplicação da Avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio). Foram detidos 21 homens e seis mulheres.
17 de junho | Passeata com confronto
Mesmo com a tarifa do transporte pública com o valor antigo desde 4 de abril, os protestos continuaram na Capital. Houve dois protestos na Capital com conflitos e prisões, na quinta-feira, 13 de junho, e na segunda-feira, 17 de junho. As depredações de prédios, contêineres e veículos motivaram a reação da Brigada Militar. Nas duas ocasiões, foram usadas bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. No dia 17, o protesto reuniu cerca de 10 mil pessoas e que teve 45 prisões.
SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO
Em São Paulo a relação entre policiais e manifestantes passou de violenta na quinta-feira passada — houve agressões e feridos por balas de borracha — à paz na segunda-feira. Isso porque a PM foi orientada a evitar o confronto e proibida de usar balas de borracha, já que em protestos anteriores cometeu excessos denunciados pela população. No Rio, porém, a situação foi oposta. Com cerca 100 mil pessoas na segunda, o protesto carioca foi o maior do país e, por ação de uma minoria, o mais violento. Os policiais reagiram ao ataque com fogo à Assembleia Legislativa usando bombas de efeito moral e gás de pimenta, além de dispararem tiros contra os participantes. Houve feridos e pelo menos três foram baleados.
Fonte: Jornal Zero (RS)