Estabelecimentos anteciparam reajuste e já praticam venda com elevação média de R$ 0,20 no litro da gasolina
Rafael Vigna
Apesar de os combustíveis terem sido reajustados apenas ontem pela Petrobras, muitos postos de Porto Alegre anteciparam em um dia a remarcação dos preços. Na madrugada de terça-feira para quarta-feira, os painéis dos estabelecimentos adicionaram cerca de R$ 0,20 no preço da gasolina comum, o equivalente a 8% de aumento – o dobro da estimativa de repasses ao consumidor projetados por alguns analistas.
Procurado, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis (Sulpetro) preferiu não se manifestar sobre o assunto. A explicação é que os proprietários possuem autonomia para decidir o percentual, levando em conta a planilha de custos de cada estabelecimento.
De acordo com a estatal brasileira, no entanto, a partir de ontem, nas refinarias, a elevação foi de 6,6% para a gasolina e 5,4% no óleo diesel. Na bomba, a projeção era de alta de 4% para a gasolina e 3% para o diesel. Como essa é a primeira vez, desde setembro de 2005, que os índices serão repassados ao consumidor, pois o governo passou a utilizar a Cide para anular impactos em reajustes de anos anteriores, muitos motoristas da Capital foram pegos de surpresa com o salto de R$ 2,69 para R$ 2,89 na média de preços da gasolina em menos de 24 horas.
Foi o caso do advogado João Cláudio Lemos que não sabia ao certo a data em que vigorariam as alterações de valores. “Agora chegou o momento e o jeito é preparar o bolso para arcar com um gasto maior”, revela o advogado que utiliza três tanques completos mensalmente, uma conta que, segundo ele, deve subir de R$ 360,00 para cerca de R$ 430,00.
Já o engenheiro André Müller conta que roda cerca de 50 km por dia e calcula os custos em R$ 400,00 por mês. Na hora de acertar o primeiro abastecimento com o novo índice, os R$ 150,00 cobrados por 51,89 litros confirmaram o cenário e o saldo foi um desembolso cerca de R$ 25,00 superior ao costumeiro.
Sem saber do aumento, Dinamar Zanchet afirma que sequer prestou atenção aos valores ao encher o tanque na tarde de ontem. “Bem que estranhei um pouco o total, mas achei que tinha rodado mais do que o de costume”, justificou.
Por outro lado, os mais atentos anteveem novos aumentos pela frente. É o que comenta o funcionário público Jorge de Lima que, mesmo preparado, não contava que a elevação chegaria R$ 0,20. Segundo ele, a maior preocupação não se resume ao valor deixado nos postos, e, sim, aos primeiros indícios de inflação. “É preciso avaliar que, quando sobe o combustível, há um efeito dominó que puxa a alta de todos os produtos em razão dos fretes. É só o começo, e todo ano temos uma surpresa deste tipo”, reclama. Ontem, o presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga (ABTC), Newton Gibson, estimou alta de 3% a 4% no custo do frete rodoviário de cargas. Ele classificou o impacto do aumento como significativo, já que “tudo que se move neste País é feito por rodovias”.
A opinião é compartilhada pela Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha (ACI). Em nota, o presidente Luis Carlos Yllana Kopschina considerou que os reflexos serão sentidos na ampliação do IPCA em até 0,3 pontos percentuais em 2013. Kopschina afirma que os impactos do preço dos combustíveis significam a perda da metade dos ganhos anuais obtidos om a redução da tarifa de energia elétrica.
O aumento da gasolina para o consumidor deve ficar em cerca de 4% pela mistura do etanol. Segundo projeção feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o aumento é inferior à inflação, mencionando que, de 2006 a 2012, o preço da gasolina subiu 6%. “É uma elevação modesta perto daquilo que aconteceu com o preço da gasolina, uma pequena correção que não vai atrapalhar ninguém.” Para Mantega, o impacto desse reajuste no IPCA deve ser de 0,16 ponto percentual. “Se temos uma inflação entre 5% e 5,5%, é natural que haja correção de preços.”
O ministro não quis antecipar se, ao longo do ano, haverá um novo reajuste da gasolina. Segundo ele, o aumento é uma política determinada pela Petrobras. “Depende do preço internacional do petróleo e de uma série de outros fatores. Não sou eu que defino isso. Eu busco até não comentar esse assunto, que é da Petrobras”, disse.
A última ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) tinha antecipado que a projeção de reajuste no preço da gasolina se situaria em torno de 5% para o acumulado de 2013. O aumento nos preços dos combustíveis deverá neutralizar o impacto da desoneração na tarifa de energia elétrica sobre os índices gerais de preços (IGPs). A avaliação foi feita pelo superintendente-adjunto de inflação do Ibre/Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. “Arredondando as partes, ficaria equilibrado”, disse.
Pelos cálculos de Quadros, a elevação de 6,6% nos preços da gasolina e de 5,4% no diesel teria um impacto de 0,26 ponto percentual no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) – que responde por 60% do IGP.
No indicador geral, a alta dos combustíveis teria um efeito de 0,16 ponto percentual “O aumento será distribuído ao longo de fevereiro”, disse, lembrando que enquanto a gasolina tem participação de quase 1,53% no IPA, o diesel tem peso maior, de 2,85%.
Quadros considera que o reajuste da gasolina, para o consumidor, será de 4,3%, e, com isso, o impacto da alta no IGP seria de 0,20 ponto percentual. Ao contrário do atacado, no varejo é a gasolina que tem maior peso, de 2,86%, o diesel, de 0,007%.
O percentual de etanol misturado à gasolina passará de 20% para 25% a partir do dia 1 de maio. O anúncio foi feito ontem pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, depois de reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e representantes do setor de etanol. A ideia inicial era que a elevação da mistura fosse feita em junho, mas o governo decidiu antecipar a vigência. Segundo Edison Lobão, a expectativa do governo é que a medida ajude a reduzir o impacto do aumento do preço da gasolina, que teve reajuste de 6,6% nas refinarias.
Segundo o ministro, os produtores garantiram ao governo “de mãos juntas” que vão abastecer o mercado, aumentando a produção de 22 bilhões para 26 ou 27 bilhões de litros de etanol por ano. Em 2011, o percentual de álcool anidro adicionado à gasolina teve redução de cinco pontos percentuais por causa da falta do produto. “O governo também vai estudar a possibilidade de incentivar ainda mais o setor de etanol”, disse.
O acordo para aumentar a adição de etanol retrata a intenção do governo e dos usineiros em retomar o diálogo, estremecido desde 2011. À época, a presidente Dilma Rousseff, no começo do seu governo, recebeu a promessa dos empresários de que haveria oferta de etanol suficiente para atender à demanda. Mas uma estiagem sem precedentes atingiu a cana e prejudicou a produção do combustível.
Uma das punições de Dilma aos usineiros foi justamente reduzir a mistura para 20% e ainda diminuir para 18% o piso mínimo para a adição do anidro. Fontes do setor afirmam que os usineiros pediram que o aumento da mistura para 25% ocorresse em 1 de abril. O governo defendia para junho, mas o meio termo encontrado, para 1 de maio.
Fonte: Jornal do Comércio (RS)