Erra Marina Silva ao dizer que o Rede (com “o” e não “a Rede” pois se refere a um partido e não uma rede) seria o primeiro partido clandestino em plena democracia brasileira. A condição de clandestinidade é quando um partido político não pode (ou não quer) ter existência legal, mas existe de forma não oficial, clandestina. Um exemplo no Brasil foi o Partido Comunista Brasileiro, que viveu grande parte de sua história na clandestinidade/ilegalidade.
Marina erra porque, atualmente, existem ao menos duas grandes forças que funcionam como partidos clandestinos: A grande mídia e algumas igrejas (das quais não falo nesse momento). Sempre necessárias às ressalvas da não generalização, ou seja, em toda regra há exceções, ou nem sempre o fato é regra, mas sim exceção.
No Brasil, a grande imprensa vive como verdadeiros partidos clandestinos – não me refiro aqui exclusivamente ao chamado PIG, expressão cunhada pelo deputado federal Fernando Ferro e, posteriormente, adotada por vários jornalistas da blogosfera – que agem politicamente, fazem “formação ideológica” e manipulam versões.
É interessante como passam a vida toda em todos os programas (portanto, não somente nos espaços de programa partidários, como acontece com os partidos políticos) vendendo o seu discurso ideológico, mesmo que disfarçado com outros nomes, sendo os mais conhecidos, como “notícias” e “entrevistas”.
A técnica mais utilizada é a “versão dos fatos, na qual sempre se dá a versão da notícia que mais agrada aos interesses. Quando uma notícia é boa, uma das melhores formas de desqualificá-la é diminuir a sua importância ou agregar informações assessórias negativas: “A casa ficou grande e bonita, mas… no jardim ainda não foram plantadas as flores”. Outra técnica é, nos programas de entretenimento, a adoção do discurso popular (das ruas) pelos personagens ou entrevistadores reformulado-o com a agregação do discurso ideológico e devolvido às ruas que novamente o reproduz como sendo o seu próprio discurso; só que agora, mais refinado e com a disfarçada carga ideológica.
A produção de versões chega, inclusive, à prática de fraudes jornalísticas, conforme a denunciada nos últimos dias, praticada pelo jornal Folha de São Paulo, que visivelmente pretendeu influenciar seu (e)leitorado com versões não somente manipuladas, mas fraudulentas.
Quando não ocorre a fraude, no mínimo acontece a pior versão possível. A grande mídia consegue a produção de versões tão negativas que nossa imaginação, muitas vezes, não conseguiria produzir. Assim é a magnífica “liberdade de expressão” que permite a expressão de forma “livre” na busca dissimulada da conquista de “corações e mentes” que defendam os seus ideais e ideologias, como se estas fossem as mesmas de quem as defende.
Mas, questiona o meu sagaz leitor (sim, não duvide, esse artigo tem um leitor sim!): se é o maior partido (clandestino) do Brasil, por que o título desse artigo fala de antipartido? É simples. Porque é exatamente o discurso da contrariedade, da negação, portanto, do antipartido, antipolítico, anti-ideológico, antigoverno, anticandidato que provoca simpatia e adesão de quem já está há muito ideologicamente preparado e domesticado para isso.
A ousadia da grande mídia-partido é tanta que, atualmente, além do apoio claro a “seus” candidatos tradicionais, passa a mudar a sua estratégia, e lança como candidatos (com a roupagem de anticandidatos, da negação do que “está ai”) seus próprios funcionários. Nas eleições vindouras teremos funcionários da mídia como candidatos a deputado estadual, federal, senador e até a governador de Estado. Tais candidaturas afrontam, ao mínimo, o princípio constitucional da isonomia, pois o apresentador, futuro candidato, tem sempre a sua disposição um espaço privilegiadíssimo para produzir um processo e empatia com o seu futuro eleitor.
Portanto, essa conjunção, de uma candidatura cuja relação com o eleitor já está há muito construída, conjugado com uma pregação ideológica que agrada aos ouvidos dos incautos, é uma formula perfeita para que o grande partido sempre tenha sucesso nas suas investidas eleitorais. Claro, tudo de forma neutra e imparcial (sic).
Edson Luís Kossmann
Dallagnol Advogados Associados