Milhares de pessoas passam pelo Mercado Público de Porto Alegre diariamente. Seja para comprar carne, peixe, especiarias, erva-mate, sorvete, seja apenas cruzando suas dependências para chegar ao outro lado do prédio, o porto-alegrense tem incorporado, desde criança, a consciência de que o Mercado está lá. Em meio ao intenso movimento de clientes e vendedores – e, há mais de um ano, de operários que trabalham nas obras de recuperação após o quarto incêndio no prédio, ocorrido em julho de 2013 –, o local completa, nesta sexta-feira, 145 anos de existência.
A celebração será realizada pela manhã, ao som de um saxofonista e com o tradicional bolo de aniversário. O evento contará com a presença do prefeito José Fortunati, do vice-prefeito Sebastião Melo e do secretário da Produção, Indústria e Comércio, Humberto Goulart.
Sérgio Lourenço, proprietário da Banca do Holandês, que fica no coração do Mercado Público, lembra que o estabelecimento foi o primeiro da Capital a vender especiarias, sendo aberto em 1919 e funcionando sempre no mesmo lugar. “Temos uma clientela muito fiel, basicamente conhecemos todos que estão aqui. Apesar de mais de mil pessoas trabalharem no Mercado, todos se conhecem desde pequenos, então é como uma família”, afirma.
A movimentação diminuiu após o incêndio no ano passado, que deixou o segundo andar, onde havia restaurantes, praticamente inativo. “O Mercado só estará funcionando em 100% quando eles forem reabertos, porque as pessoas sempre vinham almoçar e já compravam alguma coisa, ou vice-versa”, explica Lourenço.
Na época em que o Mercado Público pegou fogo, segundo o permissionário, houve grande clamor da sociedade em relação ao local. Algumas escolas chegaram a levar seus alunos para colar homenagens nas paredes do prédio. “Deu para ver que, naqueles 38 dias em que ficamos fechados, o Centro estava sentindo falta do Mercado. Muitos vêm à região central da cidade e completam sua jornada vindo para cá. Até mesmo as pessoas da administração pública se surpreenderam com o carinho de todos”, aponta.
Um dos exemplos é Pedro Gilmar Rauber. O representante comercial mora no bairro Jardim Planalto e vai cinco vezes por semana às dependências do Mercado, em busca de especiarias, carnes, chás e peixes. “Só aqui sabemos que encontraremos tudo o que precisamos e que o produto vendido é aquele mesmo prometido”, opina. A relação com o local começou há cerca de 40 anos. “A gente se acostuma a vir aqui. As pessoas que vêm são sempre as mesmas, envelhecemos juntos por esses corredores”, reflete.
Com as reformas que estão acontecendo, Lourenço espera que a infraestrutura se torne melhor do que era antes. “Tem vários projetos, desde troca de piso, que precisamos, até bueiros, instalações pluviais, que estão horríveis. Tomara que todos sejam concretizados, e que dessa tragédia saia alguma coisa boa.”
As obras relativas à troca do telhado do Mercado Público, destruído pelo incêndio, estão em fase de conclusão. A cobertura era de madeira e está sendo substituída por uma estrutura de metal. O cronograma da recuperação está dividido em três etapas. A primeira parte, relativa à estrutura de paredes, portas e janelas danificadas pelo fogo, é realizada pela Arquium, a mesma empresa que fez a última grande reforma no prédio, na década de 1990. A segunda, que acontece em paralelo, é a troca do telhado de madeira pela estrutura metálica. A terceira prevê a recuperação das redes de estrutura elétrica, hidrossanitárias e de refrigeração.
Três empresas especializadas serão contratadas para realizar esses projetos. O custo total da obra é de cerca de R$ 19 milhões, com recursos do PAC Cidades Históricas.
Fonte: Isabella Sander – Jornal do Comércio