Índice oficial do País sofreu forte influência da alta dos alimentos no mês de janeiro; dado acumulado em 12 meses chega a 6,15%
A inflação oficial subiu 0,86% em janeiro, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior alta de preços registrada desde abril de 2005 e repercutiu imediatamente no mercado, ampliando as apostas em uma elevação da taxa básica de juros (Selic) ainda neste ano. Os contratos de juros fecharam em alta no mercado futuro. “Está ainda mais claro que o IPCA acumulado em 12 meses vai ficar no intervalo entre 6% e 6,5% até agosto. Dificilmente fica abaixo de 6% nesse período”, apontou Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
Os preços dos alimentos dispararam, pressionados por problemas climáticos, mas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve influência ainda dos gastos maiores com cigarros, aluguel e automóveis novos. Os bens duráveis também começaram a sentir os efeitos da volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A taxa da inflação acumulada em 12 meses alcançou 6,15%, afastando-se ainda mais do centro da meta de inflação perseguida pelo governo, de 4,5%. Em janeiro, os alimentos ficaram 1,99% mais caros, o que correspondeu a 56% da inflação do mês.
“Também tem a questão de demanda. Se as famílias consomem mais, isso propicia que os reajustes (de preços de alimentos) sejam repassados, inclusive na refeição fora de casa, no lanche”, observou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. As chuvas prejudicaram a oferta de produtos como tomate, batata-inglesa, cebola, hortaliças e cenoura, mas os aumentos foram generalizados. A farinha de mandioca voltou a subir, atingindo um aumento de 111,85% em 12 meses, o que pressionou mais o IPCA em estados consumidores no Norte e Nordeste do País.
Os automóveis novos e os eletrodomésticos ficaram mais caros em janeiro por conta do retorno escalonado do IPI. O preço do carro novo subiu 1,41%, o terceiro maior impacto sobre a inflação do mês, atrás apenas das influências do cigarro (em primeiro lugar, com impacto de 0,09 ponto percentual), tomate e aluguel (dividindo a segunda posição, com 0,06 ponto percentual cada). Já os eletrodomésticos, também beneficiados pela redução de IPI, subiram 1,59%.
O índice de difusão no IPCA, que indica a proporção de itens com aumento de preços, alcançou 75,07% em janeiro, o maior patamar desde meados de 2003. O resultado indica que a pressão inflacionária é disseminada. “Não é só uma questão de itens específicos subindo e causando essa pressão, mas, sim, uma alta bem generalizada e que mostra que o Banco Central tem motivos mesmo para estar desconfortável”, alertou Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências. No fim de janeiro, o presidente do BC, Alexandre Tombini, declarou a jornalistas no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que a inflação era “resiliente no curto prazo”, mas que iniciaria o movimento de convergência para o centro da meta no segundo semestre.
Em janeiro, o corte anunciado pelo governo na tarifa de energia elétrica ajudou a conter a inflação, mas o impacto será maior em fevereiro. “É difícil essa conta porque a tarifa foi reduzida em 18% na maioria das empresas, mas a conta da energia elétrica é diferente”, disse Eulina, lembrando a variação de tributos, como PIS/Cofins. “Se a conta se mantiver constante, estão faltando três quartos para complementar a redução, em torno de -0,4 ponto porcentual, de impacto em fevereiro”, calculou Eulina. A queda na tarifa de energia, entretanto, deve ser compensada pelos aumentos previstos nas mensalidades escolares e na gasolina. “Mas o reajuste de 6,6% nas refinarias não quer dizer que seja de 6,6% nas bombas”, declarou Eulina. A corretora Concórdia estima que apenas o reajuste da gasolina responda por uma contribuição de 0,15 a 0,2 ponto percentual para o IPCA de fevereiro.
O efeito do aumento dos preços dos combustíveis já apareceu integralmente no atacado, segundo revelou a primeira prévia do IGP-M de fevereiro, mas deve ser percebido aos poucos no subindicador que mede a inflação ao consumidor, o IPC-M, disse nesta quinta-feira o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. A primeira prévia do IGP-M de fevereiro mostra que a inflação subiu 0,41%, mesma variação registrada em igual prévia de janeiro. O IGP-M é muito usado para reajuste no preço do aluguel. Até a primeira prévia de fevereiro, o índice acumula aumentos de 0,75% no ano e de 8,42% em 12 meses.
“Temos uma perspectiva bastante favorável (para o IGP-M), mesmo que a gasolina, que apareceu no IPA integralmente, vá aparecendo aos poucos no IPC”, afirmou. Segundo ele, o aumento dos combustíveis deve ser contrabalançado pela queda das tarifas de energia elétrica. “O que teremos de impacto de queda da energia elétrica acomodaria vários aumentos de gasolina.”
De acordo com Quadro, o impacto da redução das tarifas verificado não representa nem metade do total esperado. “Daqui para o fim do mês, vai haver um aprofundamento desse impacto”, afirmou. A expectativa da FGV é de que o IPC fechado de fevereiro seja “bem menor” que o de janeiro. O coordenador explicou que o IGP-M não desacelerou na primeira prévia de fevereiro, apesar da redução de ritmo verificada no IPA e no IPC, por causa da alta do INCC. Embora represente apenas 10% do índice, este último subindicador puxou-o para cima em razão do aumento do custo da mão de obra. Além de reajuste em Belo Horizonte, alguns salários foram corrigidos pelo novo mínimo no País.
Fonte: Jornal do Comércio (RS)