O Colégio Estadual Professor Elpídio Ferreira Paes, no Bairro Cristal, está sem dois professores de Português. Mas, para se ter uma ideia do prejuízo para a aprendizagem dos alunos do ensino médio, é preciso usar conhecimentos de matemática: são cinco turmas (dos primeiros e segundos anos do ensino médio) sem cinco períodos semanais de Língua Portuguesa cada uma.
A direção tenta contornar a falta com outras atividades, mas nem sempre consegue evitar que os alunos sejam dispensados antes da hora.
– Estamos no terceiro ano e estar com falta de professor é horrível, porque logo teremos o Enem – observa Luana Brehm, 17 anos.
Acúmulo de matéria preocupa
Para Guilherme Vitt, 16 anos, também do terceiro ano, não ter professor de Português significa prejuízo nos conteúdos de gramática e na produção da redação.
– Depois, para recuperar vai ser difícil. Teremos muita matéria acumulada – diz o estudante.
De acordo com a vice-diretora Cláudia dos Santos Carlos, professores de outras disciplinas estão se desdobrando para atender os alunos.
“Estamos nos virando”
Para piorar a situação, neste início de ano, segundo ela, a escola perdeu cinco professores (das disciplinas de Geografia, Inglês, História, Ciências e Religião) porque a Seduc solicitou os profissionais para que atuassem em outras escolas nas quais havia falta de professor.
Com isso, o Elpídio Ferreira Paes ficou ainda mais carente. Mas a equipe vem atendendo os 1,1 mil alunos mesmo assim.
– Estamos nos virando, mas, quando não conseguimos atender, temos que liberar mais cedo – lamenta a educadora.
Levando trabalho para casa
Neste momento, há professores com toda a carga-horária ocupada em sala de aula (os que têm regime de 20 horas devem estar até 15 horas em sala de aula e, os de 40 horas, até 30 horas em aula). Por conta disso, o preparo da aula e as correções de trabalhos estão sendo feitos fora da escola. Ou seja: tomando o tempo de lazer dos educadores.
O que diz o governo do Estado
A coordenadora-adjunta da 1ª Coordenadoria Regional de Educação (1ª Cre), Lucia Wendlaend, contesta informações prestadas à reportagem pelas equipes diretivas das escolas.
Segundo ela, não há registro de falta de docentes nas escolas Afonso Emílio Massot, Alcides Cunha, Helena Litwin Schneider, Professor Sylvio Torres (em parte), Doutor Oscar Tollens, Marieta Cunha, Anne Frank e Professor Elpídio Ferreira Paes (veja liga completa na página 10).
DG comprova o que Cre nega
Detalhe: a reportagem esteve na Elpídio Ferreira Paes, quarta-feira, e conferiu pessoalmente que havia turmas sendo dispensadas pela falta de professor de Português.
Nas restantes, conforme a coordenadora-adjunta, há mesmo ausências. Mas Lucia Wendlaend repassa a responsabilidade sobre a comunicação:
– Não temos essa demanda aqui na Cre. Vamos conferir. Quem abre a vaga é a direção da escola, quando detecta a falta do professor e vem até a coordenadoria com o estudo de quadro de recursos humanos.
Para completar, Lucia nega que haja professores com carga-horária além da permitida em sala de aula. Direções dizem o contrário.
O que diz a prefeitura
Sete escolas municipais se negaram a responder o questionário do Diário. Então, a diretora de recursos humanos da Secretaria Municipal da Educação (Smed), Zuleica Beltrame, forneceu os dados e explicou que há casos em que a equipe diretiva prefere deixar a manifestação à equipe de recursos humanos da Smed.
Possibilidade de ampliar regime
Em relação à falta de profissionais, Zuleica afirma que além de futuras nomeações, em caso de cargos em aberto, há possibilidade de ampliação de regime (quem tem 20 horas por semana passaria a trabalhar 40 horas por semana), ganhando para isso.
Como há professores volantes, que significa sobreposição de carga-horária, os alunos “não têm ficado sem aulas” e os conteúdos são recuperados quando o titular assume.
– Encaminhamos professores durante o ano inteiro – conclui.
Onde estão faltando professores
A terceira etapa do levantamento que o Diário Gaúcho está fazendo nas escolas públicas da Capital expõe a falta de mais de 30 professores em quase um mês de aula. Confira:
15 soluções, 30 faltando
Na terceira reportagem da série que está conferindo a situação da falta de professores na rede pública da Capital, o Diário Gaúcho voltou a fazer contato com as 24 escolas que registraram a falta de 45 professores.
Na nova checagem, foi constatado que houve 15 reposições. Seguem faltando 30 professores e duas escolas registraram novas demandas, um professor em falta em cada escola.
Reposição pela metade
No Instituto Rio Branco, visitado pelo Diário na semana passada, onde havia carência de dois professores de Português, um de Matemática e um de Física, o problema foi reduzido pela metade: os dois de Português foram repostos.
Fonte: DIÁRIO GAÚCHO (RS)