Um artigo do coletivo Vila Vudu vale à pena ser repassado, no mínimo, por sua hilaridade. Pra começar, dando um alô à dona Miriam Leitão: Será que a senhora só sabe entrevistar economistas tucanos reacionários golpistas de “consultorias merrecas quebráveis”? Será o benedito? Será que a senhora não sabe entrevistar economistas golpistas grandes demais pra quebrar?
Não que os inquebráveis sejam mais lúcidos ou progressistas que os quebráveis – mas, ao menos, os inquebráveis não são udenistas golpistas obcecados, ou seja, os inquebráveis têm uma visão mais objetiva dos mercados, precisamente por serem inquebráveis. A exemplo da sóbria e hiper-realista entrevista de Jim O’Neill, diretor de investimentos do Goldman Sachs , nada menos, imaginem só!
Pergunta: Como ficará a paisagem da economia em 2013?
Economista reacionário, mas GRANDE DEMAIS PRA QUEBRAR: Agora que já se definiram as posições na liderança política de EUA e China, pode-se finalmente delinear o quadro da economia para 2013, já conhecendo quem estará no comando das duas maiores economias do mundo.
Pergunta: E o que as forças econômicas farão a eles?
Economista reacionário, mas GRANDE DEMAIS PRA QUEBRAR: Para começar, os EUA continuarão a enfrentar repetidas dificuldades com o ‘despenhadeiro fiscal’, até que os mercados financeiros pressionem os políticos e obtenham cortes significativos nos gastos e redução radical no déficit. Mas, apesar disso e associado a crescimentos frustrantes, 2013 será um ano mais forte para a economia global do que muitos esperam. Vejam: em 2011, a China acrescentou ao mundo US$1,3 trilhão de Produto Interno Bruto (PIB). Equivale a criar outra Grécia a cada 12,5 semanas; quase uma Espanha por ano. Juntos, os quatro países BRIC, countries Brasil, Rússia, Índia e China, acrescentaram à economia do planeta cerca de US$2,2 trilhões em 2012. Equivale a criar uma Itália por ano. Apesar dos problemas, a Itália ainda é a oitava maior economia do mundo e assim continuará nos próximos anos, até que Rússia e Índia a superem como se prevê.
As oito economias de mercado em crescimento – os BRIC plus Coreia do Sul, Indonésia, México e Turquia – criaram cerca de US$3 trilhões em 2011, mais do que o Reino Unido em um ano. Essas economias somadas têm já tamanho bem próximo da economia dos EUA, alcançando US$15-16 trilhões, cerca de 25% do PIB global. A menos que essas taxas de crescimento caiam muito, a contribuição desses países para a riqueza global crescerá dramaticamente, e o crescimento global ultrapassará as previsões sinistras que analistas ocidentais assustadiços parecem prestigiar. Se as economias desse ‘grupo C-8’ crescerem em média 10% em dólares norte-americanos, acrescentarão US$1,5 trilhão ao PIB global para o ano que vem.
O crescimento chinês diminuiu em 2011-2012 por decisão dos economistas do Partido Comunista da China. Para a década iniciada em 2011, nós, da Diretoria de Investimentos do Banco Goldman Sachs, estimamos que a China, responsável por metade da riqueza produzida pelo grupo C-8 (prováveis US$8,3 trilhões ao final de 2012), crescerá a taxas anuais de 7-8% em termos reais, com inflação em torno de 3%.
A China crescerá em torno de 7-8%, em parte porque os dirigentes do Partido Comunista Chinês decidiram que é o crescimento desejável. No final de 2009, já com um ano de política chinesa de estímulos, como resposta à crise global de crédito, o Partido Comunista Chinês decidiu que já não lhe serviria crescer 10% ao ano (crescimento real). Por quê? Porque a desigualdade de renda crescia dramaticamente, o dano ambiental idem perigosamente, e a inflação estava comendo (enquanto os mais pobres passavam fome) o crescimento real.
O crescimento-alvo da China, definido em 7%, embora exposto a grandes desafios, visa manter o crescimento do consumo privado em torno de 8% (também implica reconhecer que as exportações e o investimento não crescerão tão fortemente quanto antes); e admite-se aumento na participação do consumo na formação do PIB.
Mais foco em inovação e criatividade será acompanhado de forte aumento real nos salários, mais direitos e garantias para migrantes urbanos e aumento nas pensões, aposentadorias e na assistência à saúde. Se a China crescer 7-8% outra vez em 2013, terá um crescimento mais equilibrado.
Além da China, os demais BRIC – Brasil, Rússia e Índia – todos têm desafios que os governantes terão de enfrentar para promover um crescimento mais forte. Mas por todo o lado observam-se desenvolvimentos interessantes, inclusive na Indonésia, nas Filipinas, em Bangladesh, na Nigéria e no México; membros do que chamo de “os Próximos 11” [orig. “Next 11”], Coréia do Sul e Turquia, continuam a crescer razoavelmente bem, embora não com o momentum dos outros; são dois outros grandes membros desse grupo.
Os países BRICs e os “Próximos 11” têm, somados, mais de quatro bilhões de habitantes, mais de 2/3 da população do planeta. Continuando a crescer, a contribuição dessas economias empurrará o crescimento global para muito além do que globalmente se alcançaria sem eles.
Quanto à UE, o mais provável é que, pelo menos antes das eleições na Alemanha, no outono de 2013, todas as decisões chaves sejam descartadas ou adiadas. Mas a economia global pode ficar mais fraca em 2013, se o pior continuar a acontecer na Europa e nos EUA, especialmente se o novo Congresso não conseguir trabalhar com o presidente reeleito Obama a fim de encontrar algum arranjo para o orçamento no sentido de melhorar a credibilidade de médio prazo da posição fiscal dos EUA. É um equilíbrio difícil de alcançar. Ainda quanto à Europa, muitos investidores ainda assumem que chegará um momento em que se poderá concluir definitivamente que a União Monetária Europeia será salva ou extinta de vez. E isto significa que a Europa muito provavelmente enfrentará mais um ano difícil.
Mas o crescimento dos BRICs continuará a gerar, em termos de riqueza, uma Itália por ano. A menos que o ambiente europeu se deteriore muito rapidamente, a Europa não será assunto importante para a economia global em 2013.
Ou seja, o hiper-realismo dos Economistas reacionários, mas Grandes Demais Para Quebrarprevalece como um sismógrafo incontestável: em 2013 quem crescerá globalmente serão os emergentes países do BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China. Uma lição inquestionável para dona Miriam Leitão & quejandos.
Fonte: Márcia Denser – Congresso em Foco