Chega o mês de dezembro e é aquilo: uma contagem regressiva inevitavelmente se instala na cabeça e nas ações das pessoas. Passou muito rápido, não deu tempo de fazer uma porção de coisas. É como um hodômetro: queremos chegar ao final de dezembro com a quilometragem pessoal zerada. Em primeiríssimo lugar, há as pessoas queridas com quem queremos celebrar os últimos dias do ano – só que faltam poucos dias para tantas comemorações. Há aqueles com quem queremos nos desculpar por qualquer coisa. Isso sem falar dos problemas que ainda pretendemos resolver nestes poucos dias que restam – até os insolúveis.
É o momento do balanço: todos temos pendências, é só uma questão de grau. Quantas intenções, promessas e feitos ficaram a ver navios? Mais fácil é pensar nas pendências alheias: da Igreja, do nosso Brasil tão desigual, das Cortes Internacionais…
Por falar em religião, minha filha se preparou o ano inteiro para a crisma. Chegou o dia da solenidade. Igreja lotada, toda restaurada (Primeiro Mundo), aquela aura de encantamento, religiosidade e paz no ar. Fui positivamente surpreendida. Chega Dom Dadeus Grings abanando para todos. Chapéu comprido com ornamentos, traje e postura dignos de um Chefe de Poder Eclesiástico. Humano, buscou se aproximar das pessoas, parecia não se deslumbrar com a posição alcançada. Lembrava o Papa Francisco. Ao final da cerimônia, formou-se uma longa fila para tirar fotografia com Dom Dadeus. Pois não é que esse é o nome que consta na sua certidão de nascimento? Vocacionado para a religião desde o berço. Polêmico, tem posições firmes e faz questão de expressá-las. Gostei! Mas as consequências para quem ousa dizer o que pensa necessariamente vêm depois.
Todos já se deram conta, inclusive a própria Igreja Católica, que ela precisa se atualizar, se aproximar das pessoas (reais, não das idealizadas e inexistentes), falar uma linguagem mais inteligível. Se souber dialogar com nossa alma, como o Papa atual tem feito, com surpreendente maestria, certamente amealhará mais e melhores fiéis. Isso vale para quem tem fé, para quem não tem tanta fé e até para os desprovidos de fé. Boa meta, essa.
Restam alguns dias para o reinício. A esta altura do campeonato, são poucos os grandes feitos que poderemos realizar – não esqueçamos, é claro, dos vestibulandos, dos concursandos e dos noivos de dezembro. Melhor ficar com metas plausíveis: agradecer por tudo, celebrar a vida com as pessoas que amamos e fazer novas promessas. Meu Natal terá menos Noel e mais Dadeus. Então é Natal. O ano termina e nasce outra vez…
Marta Leiria Leal Pacheco
Procuradora de Justiça do Estado do RS