Há, atualmente no Brasil, um problema que também é mundial: o exercício indevido da cirurgia plástica por médicos não especialistas ou oriundos de outras áreas da Medicina, como, por exemplo, oftalmologistas fazendo plástica das pálpebras; otorrinolaringololgistas fazendo plástica das orelhas, da face e do nariz; mastologistas fazendo plástica das mamas, sem falar na lipoaspiração feita até por médicos clínicos gerais. Essas distorções são prejudiciais a todos, especialmente ao paciente que se arrisca, atraído pela possibilidade de utilizar seu plano de saúde para cobrir custos hospitalares, já que um otorrino, por exemplo, consegue facilmente autorização dos convênios fornecendo um laudo ao paciente relatando alguma “disfunção no nariz” – que é utilizado muito mais para obter a hospitalização via convênio para realizar uma “plástica conjunta com a correção da patologia”.
Outro argumento utilizado por esses médicos que atuam em órgãos específicos (olhos, nariz, orelhas, mamas etc) é de que eles conhecem mais profundamente a região anatômica em questão e fazem, por isso, uma cirurgia não só estética, mas “que preserve melhor a parte funcional, ao contrário dos cirurgiões plásticos”. O resultado dessas manipulações falsas e antiéticas é pacientes operados com técnicas inadequadas, aumento significativo das complicações e, muitas vezes, sequelas irreversíveis.
A formação de cirurgião plástico é longa e exige, além dos seis anos de Medicina, dois anos de residência em cirurgia geral, ingressada por meio de concurso, e mais três anos de residência em cirurgia plástica, também por meio de concurso em serviço credenciado e inspecionado pelos Ministério da Educação e da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Essa ampla e profunda formação permite que o especialista em cirurgia plástica, que antes por pré-requisito obrigatório deve ser especialista em cirurgia geral, no caso de uma intercorrência mesmo grave com seu paciente, esteja preparado para resolvê-la – ao contrário de outros profissionais com formação mais focada e imensamente mais limitada.
A residência médica é um período de dedicação integral do médico residente em que há um programa teórico, mas fundamentalmente uma formação prática supervisionada por cirurgiões plásticos especialistas que transmitem não só o seu conhecimento, mas, sobretudo, a sua experiência. Os Serviços de Cirurgia Plástica devidamente credenciados permitem ao futuro cirurgião preparar-se adequadamente para os desafios dessa especialidade tão complexa, além de oportunizá-los a conviver estreitamente com a realidade social de nosso país, ajudando pessoas de poucos recursos sócioeconômicos a realizar alguns de seus sonhos, plantando no jovem a semente de uma Medicina mais humanista e solidária.
Aos cirurgiões plásticos que se dedicam a ensinar é reservada a imensa satisfação de verem seus alunos se transformarem em especialistas competentes e médicos responsáveis que sabem honrar e defender o seu juramento. É vendo a dificuldade do outro que se aprende ainda mais. Portanto, esse exercício de humildade e doação, baseado no idealismo e no desejo genuíno de dividir o conhecimento e recebê-lo, deve, a meu ver, ser o único caminho a ser percorrido pelo médicos que pretendem aprender e exercer a cirurgia plástica e por aqueles que amam ensiná-la.
Dr. Pedro Alexandre
Cirurgião Plástico