Passadas as eleições. a polarização verificada nesta eleição de 2014 e confirmada pelas redes sociais aflorou sentimentos de ódio e rancor de ambos os lados da disputa. Dilma, Aécio e suas respectivas coligações foram atacadas veementemente por seus opositores, muitas vezes, por meio de notícias montadas e escândalos de ocasião. Estes reverberavam pelas redes sociais e eram utilizados para atacar quem se atrevesse a discordar da opinião dos ditos abalizados.
Sobrou para parentes, amigos, colegas de trabalho e até “conhecidos” (amizades que nunca saíram do plano virtual). O cômico, se não fosse trágico, é que uns defendiam os pobres, outros o empresariado e, uma terceira parcela, a classe média. Inobstante o pressuposto de que uma sociedade não é considerada evoluída se todos os seus pilares não estiverem devidamente equilibrados.
Observei, calado, o festival de horrores e de agressões, envergonhado pela forma com que a xenofobia aflorou sem pudor. Uns pediram o retorno da ditadura e a intervenção militar: semanas antes de Kim Jong-un, todo poderoso ditador da Coréia do Norte, ter comandado a execução de 50 pessoas simplesmente por serem próximas ao seu tio (já executado) ou por terem visto novela (o que lá é proibido). Aqueles que se chocaram com esta notícia e pediram a ditadura, apresento-lhes: isso acontece em regimes totalitários e antidemocráticos. Sem contar os “istas” (comunistas e capitalistas) – que possuem a pretensão de moldar o ser humano em uma fórmula estanque, genérica e abrangente – reduzindo seis bilhões de mentes e reflexões à duas ideias polarizadas de mundo.
Nesse campo, acho que o filósofo Friedrich Nietzsche é mais honesto ao dizer que a maldade e a vontade de poder são os sentimentos mais honestos do ser humano, em oposição direta ao platonismo (e sua bondade inata e romântica). Essas discussões eleitoreiras serviram simplesmente para reduzir o ser humano ao irracional, desmerecendo o belo momento democrático. Cabe a reflexão, em cada ser humano, do quão é efetivamente participativo para a evolução da sua sociedade e quanto a tolerância pode agregar ao todo.
Sob esse prisma, fica a dica do filme “Cara ou Coroa”, escrito e dirigido por Ugo Giorgetti, o qual retrata a Ditadura de 1971 sob um aspecto completamente inusitado, principalmente pela exploração brilhante da ambiguidade do ser humano: um tio reacionário caridoso, um comunista que questiona a manipulação dos jovens pela esquerda e sonha em ganhar na loteria, além de um General de Exército que questiona os métodos da Ditadura, como a ilegalidade das prisões. Essa obra genial nos revela uma visão multifacetada de mundo e principalmente ratifica a máxima de que “toda generalização (ou unanimidade) é burra”.
Cláudio Eduardo Moraes de Oliveira
Advogado e diretor sindical – Sindispge