Obra sobre o Arroio Dilúvio permitirá inauguração do primeiro trecho de duplicação da avenida Edvaldo Pereira Paiva
Rafael Vigna
A segunda ponte da avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio), no cruzamento com a avenida Ipiranga, será aberta ao trânsito de veículos no dia 15 de julho. A obra de arte de 80 metros sobre o Arroio Dilúvio permitirá, a partir do próximo mês, o aumento do fluxo de automóveis na avenida.
A estrutura foi orçada em R$ 4,5 milhões. Sua pavimentação, juntamente com o alargamento da Ipiranga, no trecho de 300 metros entre a Borges de Medeiros e a Beira-Rio, será encerrada no prazo de três semanas. Em seguida, uma equipe da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) dará início à sinalização dos cruzamentos.
A informação é do engenheiro e coordenador técnico das Obras da Copa pela Secretaria Municipal de Gestão, Rogério Baú. Essa será a primeira parte do conjunto de melhorias projetadas para o entorno do estádio Beira-Rio que vai entrar em funcionamento.
“Assim como a ponte, todas as demais obras previstas para ampliar as condições de acesso ao estádio atenderão à população e aos turistas até os prazos estipulados”, garante Baú.
As intervenções urbanísticas no entorno da sede gaúcha no Mundial de 2014 – tema desta segunda reportagem da série do Jornal do Comércio sobre as obras da Copa – vão custar ao todo R$ 145,8 milhões. A duplicação da Beira-Rio sairá R$ 119,2 milhões. Os outros R$ 26,6 milhões serão destinados à construção do viaduto Pinheiro Borda.
A elevada com 315,5 metros de extensão fará a ligação da Beira-Rio com a avenida Pinheiro Borda, passando sobre a avenida Padre Cacique. A elevada visa a separação dos fluxos entre as avenidas que circundam o estádio Beira-Rio.
A meta é que a intervenção permita a retirada de boa parte das sinaleiras da região, o que agilizaria o tráfego local. Com o viaduto, cinco conjuntos de semáforos e a rótula da Padre Cacique serão eliminados.
A obra teve início em agosto do ano passado e está em fase final de terraplanagem, concretagem do primeiro bloco das fundações e instalação das estacas. A meta é concluir a construção até abril de 2014.
A estrutura estaiada está alinhada ao projeto visual de revitalização da orla do Guaíba, idealizado pelo arquiteto Jaime Lerner. Na parte inferior será instalada a estação principal do sistema de Bus Rapid Transit (BRT) da Padre Cacique – que ligará o ponto até a avenida José de Alencar (2,1 km) e a avenida Chuí (2,6 km), com 13 estações planejadas.
Na avaliação da professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pucrs, Ana Rosa Sulzbach Cé, as obras de duplicação da Beira-Rio serão o maior legado arquitetônico e urbanístico entre as 14 intervenções programadas para o Mundial.
“Trata-se de uma área na beira do Guaíba e que possui um potencial paisagístico importante. Passando naquela via, há um contato da cidade com o rio. Dentre todas, a duplicação talvez seja a de maior impacto positivo”, sustenta.
Uma das artérias que conecta o Centro da cidade à zona Sul, a avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio) terá 5,5 km duplicados até março de 2014. Serão três pistas em cada sentido, além de ciclovia e passeio para pedestres.
A obra preparatória à Copa do Mundo de 2014 ainda inclui ligações entre as avenidas Diário de Notícias, Icaraí, Coronel Massot e Tronco, com a implementação de ciclovias em igual proporção. E duas novas vias, bem próximas ao estádio, que farão a conexão entre a Beira-Rio e a Padre Cacique.
A duplicação da avenida foi dividida em quatro blocos ao longo de toda sua extensão, que vai do Gasômetro até o viaduto Pinheiro Borda. O trecho mais próximo à Usina passou por momentos críticos em função do corte de árvores previsto no projeto para o alargamento da pista.
Após manifestações populares iniciadas em fevereiro, a Justiça determinou a suspensão da retirada dos vegetais no trecho entre a rótula das Cuias e a Praça Júlio Mesquita, próximo ao Gasômetro. A polêmica só foi encerrada com uma liberação judicial para a derrubada de 57 árvores e a prisão de manifestantes que montaram vigília ao lado da Câmara Municipal de Vereadores da Capital.
O engenheiro e coordenador técnico das Obras da Copa pela Secretaria Municipal de Gestão, Rogério Baú explica que o fato levou o cronograma a “uma situação limite” no que diz respeito à renegociação financeira dos contratos. A previsão de avançar sobre a área em fevereiro teve de ser adiada para a última semana de maio.
“Sempre confiamos no projeto e acreditamos que estávamos dentro da legalidade, obedecendo ao licenciamento ambiental. Tanto que o próprio poder Judiciário nos deu aval para continuar a obra. Imediatamente retomamos o ritmo de modo a atender ao cronograma”, considera.
Mesmo assim, o chamado quarto eixo não escapou de readequações. As manifestações, segundo o engenheiro, ocasionaram a abertura de uma grande frente para a obra. “Considerávamos o prazo de 15 de maio como o máximo possível para se retomar a obra. A partir disso, teríamos inclusive prejuízos financeiros”, confirma.
De acordo com Baú, será feita uma tentativa para tornar os processos mais eficientes no canteiro com o objetivo de manter o compromisso de conclusão previsto para março de 2014. “Teremos um rigor sobre o controle de cada serviço prestado. De agora em diante, qualquer dia terá de ser muito bem justificado. Não será qualquer chuva que nos levará a paralisar as obras”, complementa.
As intervenções urbanas no entorno do estádio Beira-Rio devem trazer uma nova realidade para o mercado imobiliário no Morro do Cristal. Conforme explica Diogo Horn, diretor do Grupo ImovelClass, responsável pela organização do Salão do Imóvel da Capital, o bairro deve chamar a atenção de novos empreendimentos nos anos seguintes à realização da Copa do Mundo.
Segundo o consultor, a duplicação da avenida Beira-Rio agregará valor a toda região e a terrenos como o do Estaleiro Só. “Isso organizará o fluxo de veículos e trará mais vida com o novo mobiliário urbano para o bairro Cristal, essencialmente, em empreendimentos localizados no morro, complementando a valorização trazida pelo shopping”, analisa Horn.
A aposta também se justifica pela previsão de cobertura massiva de novas linhas de BRTs, operadas a partir do viaduto Pinheiro Borda. O consultor avalia que as melhorias no tráfego da zona Sul podem chegar até o entorno, como o bairro Azenha, onde a construtora OAS fará investimentos na área atualmente ocupada pelo Estádio Olímpico. “É um local promissor da cidade e isso ganha mais corpo com a promessa de transporte de qualidade e infraestrutura renovada”, interpreta.
No curto prazo, no entanto, Horn identifica prejuízos para outras regiões que estão recebendo obras da Copa, como as localizadas nas proximidades das novas passagens subterrâneas da Terceira Perimetral – Anita Garibaldi, Cristóvão Colombo e Plínio Brasil Milano. “Mas há uma perspectiva de compensação financeira nas regiões que hoje sofrem transtornos.”
Além da polêmica sobre o corte de árvores no entorno da Usina do Gasômetro, outra dificuldade para a duplicação da avenida Beira-Rio ocorre nas imediações do estádio do Internacional – foi necessária a obtenção de um mandado de reintegração de posse para a desocupação de um posto de lavagem de automóveis.
O documento, expedido no dia 22 de maio, ainda previa que mais quatro estabelecimentos deixassem os terrenos – as escolas de samba Praiana, Imperadores do Samba e a Banda da Saldanha.
No entanto, de acordo com a Procuradoria-Geral do Município (PGM), as quadras das escolas permanecerão na avenida Padre Cacique, mas necessitarão ser remanejadas. O impacto da demora nessas desocupações atingiu o lote 3 da duplicação da Beira-Rio – também previsto para ser concluído em março de 2014.
“As escolas vão permanecer na região. Estamos atuando dentro da área da Imperadores do Samba. É uma situação que nos torna possível completar aquele trecho, que até então estava paralisado em razão de uma polêmica envolvendo a reintegração de posse da área do posto de lavagem de carros. O espaço das outras escolas não tem relevância para a obra, e sim para um rearranjo de espaço para as suas permanências”, justifica o engenheiro e coordenador técnico das Obras da Copa pela Secretaria Municipal de Gestão, Rogério Baú.
Fonte: Jornal do Comércio (RS)