Felipe Truda Do G1 RS
Mais de 4,8 toneladas de materiais hospitalares já foram encaminhados para Santa Mariapara dar suporte ao atendimento dos feridos no incêndio na boate Kiss durante uma festa universitária no domingo (27), informou a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul. Deste material, 3,6 kg foram transportados em dois voos da Força Aérea Brasileira. A tragédia matou 231 pessoas.
Segundo o órgão estadual, ainda durante a madrugada o primeiro voo chegou do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, com 850 kg de materiais hospitalares, e passou por Porto Alegre antes de seguir até a cidade.
“Ontem enviamos respiradores artificiais. O material chegava de vários hospitais. A Secretaria (da Saúde) pedia, conforme a necessidade. Juntamos e priorizamos o transporte. Foi em um avião Bandeirante”, explicou o tenente-coronel Carlos Alberto Selistre, do Batalhão de Aviação da Brigada Militar.
Ainda foram encaminhados a Santa Maria outros donativos, em aviões e helicópteros da Brigada Militar que retornavam após levar pacientes para serem atendidos em Porto Alegre. “Quando o veículo pousava com pacientes, ia depois para o aeroporto, para ver o que precisaríamos transportar para lá. Utilizamos o máximo que deu”, explicou o oficial, que ainda não tem uma contagem do material total que já foi enviado.
Depoimento
Em depoimento à Polícia Civil, o dono da boate Kiss, Elissandro Sphor, disse que sabia que o alvará de funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação. Ele também culpou a banda Gurizada Fandangueira pelo início do incêndio, segundo o delegado Sandro Meinerz.
O dono da boate Kiss também negou tenha ordenado aos seguranças que impedissem a saída dos jovens da festa na hora que o fogo começou. Sphor, que estava na boate quando a tragédia ocorreu, negou ainda ter retirado do local o computador que armazenava as imagens gravadas pelas câmeras de segurança da boate. O gravador sumiu do local, segundo Meinerz, responsável pelo caso.
Incêndio
O incêndio começou por volta das 2h30 de domingo, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que utilizou sinalizadores para uma espécie de show pirotécnico. Segundo relatos de testemunhas, faíscas de um equipamento conhecido como “sputnik” atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos.
Pelo menos 101 das vítimas identificadas eram estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, segundo informou a instituição em sua página na internet.
O comandante do Corpo de Bombeiros da região central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado.
“Fatalidade”
Por meio dos seus advogados, a boate Kiss se pronunciou sobre a tragédia. A direção do estabelecimento classificou o ocorrido como uma “fatalidade”, afirmou que a empresa está em “situação regular” e à disposição das autoridades. A nota foi emitida pelo grupo de advogados associados Kümmel & Kümmel, que representa os proprietários da boate.
Público
O número de total de pessoas que estavam no interior da boate Kiss no momento em que o incêndio começou ainda é desconhecido. Segundo informações da própria casa noturna, a capacidade máxima é para mil clientesDe acordo com o delegado Sandro Meinerz, que é responsável pela perícia, informações coletadas pelas equipes de investigação dão conta de que o público na hora da tragédia era de aproximadamente mil pessoas. O Corpo de Bombeiros, no entanto, estima que o número era maior, perto de 1,5 mil.
Estudantes que sobreviveram à tragédia relataram que, inicialmente, seguranças da boate tentaram impedir a saída dos clientes, mas que logo perceberam a fumaça e liberaram a passagem.
O capitão da Brigada Militar Edi Paulo Garcia disse que a maioria das vítimas tentou escapar pelo banheiro do estabelecimento e acabou morrendo. “Tirei mais de 180 pessoas dos banheiros. Eles estavam tentando fugir”, disse.
Resgate
Muitas pessoas que conseguiram sair da boate ajudaram a socorrer as vítimas. “A gente puxava as pessoas pelo cabelo, pela roupa, muita gente saía só de calcinha e cueca, muitas sem camiseta, talvez para se proteger da fumaça”, disse o jovem Murilo de Toledo Tiecher.