A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) surgiu, em meados dos anos 80, como uma enorme catástrofe devido a sua alta mortalidade e tratamentos ainda ineficazes. Além disso, as formas de contágio, entre outras por contato sexual e uso de drogas injetáveis, deu à nova enfermidade uma conotação pejorativa, constrangendo os já tão sofridos doentes por suscitar especulações repletas de preconceitos sobre a sua vida privada e seus problemas pessoais.
Com os enormes avanços na terapia da SIDA, a sobrevida desses pacientes, felizmente, mudou radicalmente para melhor, possibilitando-os, desde que observados alguns cuidados, a terem uma vida praticamente normal e podendo conviver social, afetiva e sexualmente com outras pessoas, com segurança. Algumas drogas utilizadas no tratamento da doença, no entanto, passaram a produzir nos pacientes um efeito colateral denominado lipodistrofia. Este consiste em uma distribuição anômala da gordura corporal que se acumula no tronco (abdômen, tórax, dorso), na nuca e no pescoço e, praticamente, desaparece dos membros superiores, inferiores, face e glúteos, causando grandes deformidades.
Esses pacientes podem obter grandes benefícios com a lipoaspiração, preenchimentos faciais e próteses de silicone (para glúteos, panturrilhas e coxas). O que se observa, porém, é que muitos pacientes ainda desconhecem esses recursos ou receiam que, por serem soro positivos, as cirurgias plásticas neles realizadas se tornem de alto risco, o que absolutamente não ocorre. Outro fator que influencia a menor procura por auxílio na cirurgia plástica pelo paciente HIV positivo é o seu constrangimento e receio de rejeição por parte do médico, o que, lamentavelmente, ainda acontece por ignorância ou preconceito dos profissionais. Felizmente, uma maior conscientização dos cirurgiões plásticos em sintonia com os infectologistas, psiquiatras e outros especialistas tem diminuído esse problema, possibilitado, cada vez mais, que essas pessoas vítimas da infecção pelo HIV e todas suas consequências estigmatizantes consigam todo o apoio necessário para melhorar a sua autoestima e se libertarem de uma culpa que genuinamente não lhes pertence.
Dr. Pedro Alexandre
Cirurgião Plástico