O Instituto dos Advogados do RS (IARGS) junto com a OAB/RS promoveram, no dia 13 de agosto, o XV Encontro do Núcleo de Debates entre Direito e Literatura com o principal objetivo de rememorar a trajetória do professor de Direito Administrativo, professor Ruy Cirne Lima, um dos expoentes do Direito administrativo no Brasil. O evento, realizado na sede da seccional, foi coordenado pela presidente do IARGS, Sulamita Santos Cabral.
O professor Paulo Alberto Pasqualini não pôde comparecer para fazer suas explanações devido a um mal-estar, porém entregou seu trabalho por escrito ao Instituto. Os comentários foram feitos pelo desembargador Federal José Luiz Borges Germano da Silva e pelo professor de Filosofia Luiz Osvaldo Leite. Esteve também presente o neto de Cirne Lima, Eduardo Cirne Lima, que fez considerações de um leitor da obra do avô.
Para abrir o evento, o Desembargador Silvino Joaquim Lopes Neto e o Dr Miguel do Espírito Santo conduziram os palestrantes até à Mesa Diretiva ao som da marcha triunfal. Em seguida, a presidente do IARGS, Sulamita Santos Cabral, deu as boas-vindas a todos os presentes. “O evento é importante porque rememora a obra e a contribuição de um grande jurista, tanto para as letras, como para o mundo jurídico, destacou, lembrando que o homenageado foi seu professor universitário de Direito Administrativo e diretor da Faculdade de Direito da UFRGS, além de ter presidido o Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul.
Integraram também a Mesa a coordenadora do Núcleo de Debates entre Direito e Literatura da OAB/RS e IARGS, Dra Helena Ibañez; a coordenadora dos trabalhos, Dra Liane Bestetti, diretora do instituto; e o secretário-geral da OAB/RS, Ricardo Breier.
O Desembargador Luiz Borges Germano destacou os artigos publicados pelo professor Cirne Lima no jornal Correio do Povo sobre os mais diversos assuntos e que muito chamava a sua atenção a erudição de todos os textos. Destacou o lado sensível do advogado nas poesias que escrevia. Citou os livros de poesia “Minha Terra” (1926, aos 18 anos) e “Colônia Z” (1928, aos 20 anos), ambos dedicados ao Modernismo.
Lembrou que o advogado e poeta foi filho do dentista paraense Elias Cirne Lima, fundador da Odontologia da PUC/RS, e da dona de casa Judith Machado Masson, católica fervorosa. Foi casado com Maria dos Reis Velho e é pai de Carlos Roberto Velho Cirne Lima e de Luís Fernando Cirne Lima.
Devido a sua religiosidade, informou que Cirne Lima mantinha uma capela na sua casa, na qual era celebrada missa todos os domingos. Ambos os filhos estudaram no Colégio Anchieta, de Porto Alegre, devido a formação religiosa “extremamente aguda”. Por duas vezes, disse que Ruy foi provedor da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, quando fundou com seu irmão Heitor a Faculdade Católica de Medicina. Além disso, ressaltou que atuou como secretário da Fazenda, no Governo de Ildo Meneghetti, de 1964 a 1965 e, logo em seguida, candidato a governador do Rio Grande do Sul, “ocasião em que o Governo Militar decepou inúmeras cabeças na Assembleia Legislativa para impedir sua eleição”.
Informou que Cirne Lima frequentava a praia de Torres e que suas poesias eram bastante relacionadas à praia e ao campo. Para tanto, citou outro livro de poesia escrito por ele intitulado de “Madrigal Secreto”, com um único exemplar dedicado à esposa dele.
O professor Luiz Osvaldo Leite destacou Cirne Lima como conceituada figura de pensador e filósofo. Referiu que a formação original do advogado esteve ligada ao Colégio Anchieta onde estudou em Porto Alegre (RS), instituição esta formada por jesuítas, logo após a reforma do cristianismo em São Leopoldo (RS). Lá, disse, aprendeu diversos idiomas, inclusive o alemão que tinha fluência. Lembrou que Cirne Lima teve grandes professores nas áreas Humanas e de Ciências e com várias atividades extraclasses. Daí, entende ter surgido a veia de poeta no advogado. Passado este período, o professor Osvaldo Leite entende que Ruy Cirne Lima tenha dominado o pensamento universal, especialmente nos pensadores gregos e romanos com inspiração renascentista. Contudo, afirmou que Cirne Lima jamais se esqueceu do Brasil, principalmente do povo gaúcho.
O neto de Rui Cirne Lima, Eduardo Cirne Lima, fez também as suas considerações. Falou que o avô não se importava em trabalhar em seu gabinete e ter os netos brincando ao seu redor. Tinha hábitos simples, sendo, talvez, seu maior prazer fumar um “bom charuto”, ler obras de antigos e novos mestres do Direito e tomar uma taça de vinho durante as refeições.
Relatou que o avô era um homem de cultura invulgar, com uma memória prodigiosa e muito otimista em relação ao futuro. Disse que sabia que o avô era importante advogado e professor de Direito, mas que somente ao entrar na Faculdade de Direito se deu conta da dimensão da sua obra e legado.
“Dedicou-se ao Direito e ao ensino do Direito”, afirmou, destacando que o avô ensinou, sobretudo, com o próprio exemplo: com a bondade, com a solicitude, com a ternura, com a abnegação e com o amor que esbanjava no trato simples e austero com os amigos de jornada.
Revelou que sua maior surpresa ao longo da carreira do avô foi vê-lo encarnado no papel de um artista vanguardista, integrando um movimento que representava uma verdadeira renovação de linguagem, passando a escrever poemas modernistas. Contudo, disse, a “imensa curiosidade” do avô e o seu ingresso no curso jurídico o distanciaram do mundo das artes e da poesia, mas entende que permanecia em seu interior um resquício de sua alma de artista da juventude.
Rui Cirne Lima nasceu em Porto Alegre, RS, no dia 23 de dezembro de 1908, e faleceu no dia 31 de julho de 1984.
Terezinha Tarcitano
Assessora de Imprensa