Na sétima etapa da operação Leite Compen$ado, o Ministério Público prendeu 16 pessoas na Região Norte do Estado por adulteração de leite com água e sal. De acordo com o promotor Mauro Rockenbach, o produto era encaminhado para grandes indústrias, que distribuíam o leite e derivados no mercado gaúcho, de Santa Catarina e do Paraná.
Após sair do produtor, o leite era transportado para dois postos de resfriamento na região. O posto Rempel, em Jacutinga, foi interditado nesta manhã e o responsável, Amauri Rempel, foi preso. Dois funcionários do laboratório do local também foram presos. Cerca de 98% do produto da unidade era encaminhado para a indústria BRF, que trabalha com as marcas Elegê e Batavo, entre outras.
Já o posto de resfriamento da Cotrel, em Erechim, foi colocado em regime especial de fiscalização (todo o material da unidade será analisado) e teve dois representantes presos: Ari Arino Adami e Angelo Paraboni Filho. O leite e derivados eram distribuídos para a indústria Aurora, de Santa Catarina, que trabalha com a marca de mesmo nome; e DPA-Nestlé, de Palmeira das Missões, da marca Nestlé. O produto também era enviado para outras indústrias, que trabalham com queijos e derivados, como Laticínios HE, do Paraná, Kerlac, em Santa Catarina, Laticínios Ipê e Cootal, no Rio Grande do Sul.
O promotor Mauro Rockenbach disse que as indústrias não são alvo de investigação, mas serão questionadas sobre a adulteração identificada em 62 laudos colhidos nos postos de resfriamento.
“É claro que esse leite chegou ao consumidor. Mas para agilizarmos a investigação, não houve rastreamento de lotes porque, apesar de uma fraude, ela não é nociva à saúde, mas fere o direito do consumidor”, afirmou o promotor.
Dezesseis pessoas foram presas na operação e uma está foragida.
Contraponto
A Rádio Gaúcha está fazendo contato com as empresas investigadas pelo MP. A Rempeldisse que somente o responsável, Amauri Rempel, pode falar em nome da distribuidora. Ele está preso. A direção da Cotrel está reunida e ainda não vai se manifestar sobre a operação.
A BRF, que trabalha com as marcas Elegê e Batavo, informou que suspendeu a compra da carga das transportadoras envolvidas na denúncia, cancelou o contrato com o fornecedor e entrará com as medidas judiciais cabíveis. Prometeu também apoiar as investigações.
A indústria Aurora, de Santa Catarina, afirma que não industrializou leite adulterado porque realiza testes laboratoriais em toda matéria-prima vinda dos fornecedores. A Aurora decidiu suspender o recebimento de leite da Cotrel até o fim das investigações.
A direção da Kerlac Indústria e Comércio de Laticínios, também catarinense, informou que realiza todos os testes exigidos pelo Ministério da Agricultura, mas que nunca constatou nenhuma irregularidade no produto. A indústria produz queijo a partir de uma carga semana de 30 mil litros vinda da Cotrel, de Erechim. A Kerlac cancelou as compras previstas para serem entregues a partir desta semana.
Já a paranaense HE Indústria e Comércio de Laticínios afirma que desconhece a investigação e a possível adulteração do leite. Informa que no dia 24 de novembro, rejeitou uma carga de leite vinda da cooperativa Cotrel, de Erechim, devido à acidez.
A Cooperativa Taquarense de Laticínios (Cootall), que produz leite em pó, pretende divulgar uma nota oficial nesta quinta-feira.
A Nestlé Brasil informou, por meio de nota, que garante a qualidade dos produtos por meio de um rigoroso controle de qualidade. Com relação ao leite fresco utilizado como matéria-prima, a empresa informa que realiza análises laboratoriais nos seus postos de coleta, o que impede a utilização de qualquer produto em desacordo com os padrões de qualidade da empresa.
A reportagem ainda tenta contato com a Laticínios Ipê.
Adulteração
Rockenbach explica que novamente estão colocando água no leite para ter mais volume e assim obter mais lucro. O sal serve para mascarar a adição de água, já que produz alteração no ponto de congelamento do leite e, assim, engana a análise.
“É o que chamam de temperar o leite e temos laudos que deram positivo em relação à adulteração”, explica o promotor. Foram 62 amostras coletadas que deram positivo para a adulteração.
O MP e o Ministério da Agricultura também encontraram um pouco de soda cáustica adicionada ao produto coletado.
Fonte: Clic RBS