Minhas ensolaradas férias no Rio de Janeiro ganharam um tom sombrio com a morte do cinegrafista Santiago Andrade. Não era meu amigo, eu não o conhecia, mas desde que aquele rojão estourou na cabeça dele não paro de pensar que poderia ser qualquer um de nós. Como uma bomba lançada por um terrorista que não escolhe a vítima, o foguete jogado por Caio Silva de Souza caiu na cabeça de Santiago, mas poderia ter atingido qualquer outro jornalista de texto ou de imagem. Santiago morreu por nós, jornalistas, que viramos alvos dos black blocs e manifestantes desmiolados que, na falta de ideias, usam a violência como método de expressão política.
Caio Silva de Souza e o jovem que lhe passou o foguete assassino não são os únicos responsáveis pela morte de Santiago Andrade. Todos os que passaram a mão na cabeça dos manifestantes violentos e atiçaram os cães contra jornalistas têm as mãos sujas do sangue de Santiago. Os que nos protestos de junho foram coniventes com a violência e estimularam o quebra-quebra contribuíram para que se criasse um clima de hostilidade contra jornalistas, a linha de frente do que se convencionou chamar de “grande mídia”. Que não venham agora prestar condolências fingidas à viúva Arlita Andrade e à filha Vanessa, jornalista contra a vontade do pai, que alertou para as agruras da profissão.
Quando os black blocs barbarizaram o Rio de Janeiro, nos protestos de junho, destruindo lojas e prédios públicos, saqueando e quebrando agências bancárias, houve quem justificasse a violência como parte da manifestação democrática. Com a morte do cinegrafista, esses devem colocar a mão na consciência e se perguntar até que ponto foram coniventes, por ação ou por omissão.
Uma família foi destruída por um rojão que alguém levou para a manifestação com o objetivo claro de ferir. Logo, para quem levou e acendeu o artefato não se tratava de um protesto pacífico. Se isso não for tratado como homicídio doloso, estará aberto o caminho para a repetição desses atos e a próxima vitima poderá ser um operário, um policial, um servidor público, um inocente qualquer que esteja no lugar errado na hora errada.
É patética a tentativa que se vê nas redes sociais de tentar culpar a Band porque o cinegrafista não usava capacete. Era só o que faltava: um repórter, fotógrafo ou cinegrafista ter de usar capacete e armadura para cobrir um protesto contra aumento de passagem de ônibus. Os dois responsáveis diretos pela morte de Santiago estão presos, terão direito à ampla defesa e serão julgados de acordo com o Código Penal. Para que não se repita, é importante que a polícia reviste mochilas e impeça a participação de mascarados em protestos. Quem quer exercer o direito de se manifestar não pode se esconder atrás de máscara que impeça o reconhecimento no caso de cometer um crime, como cometeram os rapazes que agora responderão pela morte de Santiago.
Fonte: Rosane de Oliveira (Zero Hora/RS)