O implante de silicone (próteses) nos seios é a segunda cirurgia plástica mais realizada no mundo atual, perdendo apenas para a lipoaspiração, que ainda é o procedimento mais procurado por pacientes que consultam os especialistas da área. As primeiras tentativas de aumentar os seios com implantes ocorreram por volta dos anos 50. Motivados pelos padrões estéticos da época, especialmente nos EUA, onde ícones de beleza feminina, como a atriz Marilyn Monroe, exibiam um corpo curvilíneo com seios fartos, foram feitas algumas tentativas de implantar esponjas nas mamas das pacientes com o objetivo de aumentar o seu volume.
Essas primeiras experiências não tiveram o êxito esperado, pois as esponjas logo encolhiam e adquiriam uma consistência extremamente dura e desagradável. No Japão ocupado, após a Segunda Grande Guerra, prostitutas japonesas do porto de Yokohama injetavam silicone líquido diretamente nas suas mamas a fim de seduzirem os soldados norte-americanos; porém, esses procedimentos, embora trouxessem algum ganho estético inicial, apresentavam muitos problemas graves, como infecções e gangrenas.
Nos EUA, o cirurgião plástico Frank Gerow, a partir de uma observação sua de que a consistência de uma bolsa de sangue quando apalpada se assemelhava a de um seio feminino, teve a idéia de preencher uma dessas bolsas com silicone gel e, com a ajuda de seu colega Thomas Cronin, desenvolveu a primeira prótese de silicone da história. Os dois médicos e sua equipe implantaram, experimentalmente, a prótese numa cadela de nome Esmeralda, concluindo, pela boa evolução do experimento, que a prótese parecera ser inofensiva para os tecidos da “ilustre cachorrinha”.
Em 1962, no Jefferson Davis Hospital, em Huston-Texas (EUA), a paciente Timmie Jean Lindsey, de 30 anos, aceitou ser a primeira mulher a se submeter a um implante de próteses de silicone nas mamas. A cirurgia teria durado duas horas e o sucesso foi absoluto. Cronin e Jerow apresentaram a sua experiência no Congresso Internacional de Cirurgia Plástica, em 1963, e a novidade repercutiu como uma bomba, cuja explosão continua ecoando até os dias de hoje, com cada vez mais intensidade.
No início dos anos 90, estudos possibilitaram aos fabricantes de próteses aprimorarem os seus produtos, com o surgimento dos implantes texturizados (superfície rugosa e não lisa como antes) e os revestidos com espuma de poliuretano, o que diminui drasticamente a incidência de contratura capsular (reação do organismo causando endurecimento, dor e alteração da forma das mamas) para cerca de 1-2%, evitando, com isso, muitas reintervenções para tratar essa complicação outrora tão frequente (15 a 20%).
Outros avanços foram surgindo, como a maior resistência da camada externa das próteses, o gel que as preenche se tornou coesivo (gelatinoso ao invés de quase líquido). Esses aperfeiçoamentos tornaram as rupturas raras e, mesmo quando elas ocorrem, são muito pequenas e sem extravasamento do gel de silicone, justamente por sua nova consistência gelatinosa. Paralelamente a isso, foram desenvolvidas próteses de formas e volumes diferenciados bem como para utilização em outras regiões do corpo humano como as nádegas, panturrilhas, coxas, região peitoral e outras, tanto para aprimoramento estético como para reconstruções. Fundamental se faz destacar a grande utilidade do silicone nas reconstituições de mamas afetadas pelo câncer.
Graças à persistência e à criatividade dos cirurgiões Gerow e Cronin, da confiança e abnegação da sua paciente Lindsey, que aceitou submeter-se a uma cirurgia ainda inédita, sem esquecer a contribuição fundamental da cadela Esmeralda que serviu de cobaia nos estudos experimentais, é que as próteses de silicone puderam se tornar uma das maiores invenções da história da cirurgia plástica em todos os tempos, proporcionando a tantas pessoas a melhora da autoestima, recuperação da dignidade e inúmeros outros benefícios bem mais profundos do que simplesmente generosos decotes podem fazer parecer.
Dr. Pedro Alexandre
Cirurgião Plástico
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