Projeto Brasília-2060. Mas o que é isso? É um projeto contra a pobreza? Protesto contra as pichações? Ano escolhido para o fim da corrupção? Não. É um planejamento estratégico do Distrito Federal para os próximos 50 anos. De acordo com o GDF (Governo do Distrito Federal), a estratégia adotada será a integração de quatro eixos: a cidade-aeroportuária, inicialmente programada para ser instalada nas proximidades de Planaltina; o polo logístico, entre Samambaia e o Recanto das Emas; o centro financeiro internacional, próximo a São Sebastião; e a ampliação do Polo JK, em Santa Maria, saída para Luziânia.
Acho conveniente, sem dúvida alguma, investir na nossa capital com projetos propondo uma melhoria na economia. Claro que o GDF abrirá um concurso legal para que os brasileiros arquitetos urbanistas/engenheiros ou mesmo um gênio sem formação, possa dar o passo inicial para uma nova Brasília. Afinal, é o modo mais amplo e democrático de contratar um projeto ou algo do tipo, como aconteceu em 1957, com o plano piloto, desenvolvido por Lúcio Costa. Por incrível que pareça, não. Sem licitação, o GDF assinou no dia 03 de outubro de 2012, um contrato no valor de 4,25 milhões de dólares para que a empresa de Singapura, Jurong Consultants, faça o projeto estratégico do Distrito Federal.
É frustrante para arquitetos ou qualquer profissional da área as palavras do presidente da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), Antônio Carlos Rebouças Lins: “A licitação nesse caso é inaplicável. Nesse nível, não há empresa habilitada para fazer o serviço aqui no país. Você não pode querer entender que aqui, no Brasil, há o nível de desenvolvimento que foi experimentado em Singapura. Além disso, a empresa tem experiência em projetos que foram desenvolvidos em outros lugares, como na Índia, na Rússia, na China e aqui mesmo no Brasil, em Belo Horizonte”.
Concordo que Singapura possua um dos portos mais importantes do mundo, que seja um importante centro comercial e tenha inventado e constantemente reinventado o espaço urbano. Contudo, o DF não tem qualquer paralelo possível com Singapura, pois Brasília foi concebida para ser um centro político e administrativo, e não industrial. Eu, como um simples estudante de Arquitetura, possuo a sensatez de que Brasília não tem necessidade de industrialização, ao contrário de outras regiões carentes da imensa nação brasileira.
É triste constatar que uma das cidades mais importantes da arquitetura seja entregue facilmente para estrangeiros. Deveríamos dar mais valor ao trabalho e ao povo brasileiro. As propostas deveriam ser mais divulgadas para que todos os brasileiros pudessem ter a chance de opinar. Afinal, vivemos numa democracia.
Felipe Tarcitano
Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo
felipetarcitano@hotmail.com
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