BUENOS AIRES – O secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, anunciou nesta segunda-feira, 4, o fechamento de um acordo com a Associação de Supermercados Unidos (ASU), que reúne as principais redes de supermercados do país, para congelar os preços dos produtos durante dois meses. As empresas – entre as quais Carrefour, Disco, Jumbo, Walmart, Coto, La Anônima e Vea – retrocederão os preços àqueles que estavam vigentes no dia 1º de fevereiro, e os manterão até 1 de abril.
O presidente da ASU, Juan Vasco Martinez, afirmou que o compromisso dos empresários foi o de manter os preços congelados de “todos os produtos dos supermercados” durante os dois meses.
Paradoxalmente, o acordo foi fechado quando o governo da presidente Cristina Kirchner voltou a negar a existência da escalada inflacionária. Há poucos dias o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) anunciou que a inflação de 2012 foi de apenas 10,8%. No entanto, economistas independentes sustentaram que a inflação real superou amplamente a oficial, já que o ano passado teria sido encerrado com uma taxa de 25,6%.
“A inflação mínima de 2013 oscilará entre 25% a 30%. Pensar em um porcentual mais baixo é impossível”, afirmou o economista-chefe da consultoria Management & Fit, Matías Carugatti.
A Argentina conta com um longo histórico de congelamento de preços, desde os tempos do primeiro governo do general e presidente Juan Domingo Perón nos anos 40 e 50 e novamente na década de 70. Em 1985, a implementação do Plano Austral, da equipe econômica do presidente Raúl Alfonsín, implicou em um novo congelamento.
Fracasso. Passaram-se duas décadas sem tentativas de congelamentos até que o presidente Nestor Kirchner tentou em 2005 e 2006 aplicar essa modalidade a supermercados e outros setores da economia. No entanto, o sistema foi à pique.
O resultado desse fracasso foi uma guinada na política de combate à inflação por parte do governo Kirchner, que optou – na impossibilidade de conter a alta de preços – por maquiar o índice.
Os analistas destacam que o acordo de congelamento é um aceno aos líderes sindicais argentinos, que estão em plena negociação salarial tripartite com empresários e o governo Kirchner.
Nas últimas semanas os sindicalistas intensificaram suas críticas à política econômica da presidente Cristina e ameaçam realizar uma nova greve geral em março. Os sindicalistas dos mais diversos setores exigiram aumentos salariais de 25% a 30%, em sintonia com a inflação extraoficial do ano passado e a alta de preços prevista para 2013. No entanto, o governo rejeita qualquer aumento superior a 20%.
Coincidentemente, os líderes da Confederação Geral do Trabalho (CGT), afirmaram meses atrás que não acreditavam na inflação do Indec, mas sim, “na alta de preços do carrinho de supermercado”.
Fonte: Estadão (SP)